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terça-feira, 21 de julho de 2009

"HÁ IGNORÂNCIA SOBRE O QUE A CIÊNCIA DESVENDOU"

Há muito que me debato contra as actuais regras, definidas em Portaria do Governo Regional, do regime de apoio da Acção Social Escolar. No que concerne às idades pré-escolares, então aí, tenho utilizado a expressão "apoio indecoroso". Simplesmente porque entendo que face aos níveis de pobreza e alto custo de vida, torna-se absolutamente necessário e fundamental que, desde a creche ao pré-escolar, o orçamento público deve subordinar-se a um investimento e não a um gasto na ajuda às famílias. Infelizmente, é o conceito de gasto que tem prevalecido. Preferem aplicar em "obras" de duvidosa rendibilidade a um investimento na Educação que deve, obviamente, começar nas primeiras idades. A recente trapalhada, de avanços e recuos, sobre os valores a praticar no próximo ano "escolar" constituem a prova cabal de um governo que não olha para as prioridades.
A propósito, há dias, na revista Focus (8/14.07.09) li uma extensa entrevista com o Prémio Nobel da Economia, em 2000, o norte-americano James Heckman, que tem vindo a estudar os efeitos dos estímulos educacionais oferecidos às crianças nos primeiros anos de vida, na escola e na própria família. A conclusão é simples: "Quanto mais cedo chegarem os estímulos mais hipóteses a criança terá de se tornar um adulto bem sucedido". Eu diria que os seus estudos confirmaram aquilo que já se conhecia. No início dos anos 70 li um livro de Jean Chateau, A Criança e o Jogo, onde, a páginas tantas, o autor sublinhava: "o ser mais bem dotado é o que mais joga", ou então, socorrer-se de Roger Callois através do livro Os Jogos e os Homens, ou, ainda, das várias publicações de J. Huizinga publicados na década de 30. Todos são sensíveis e antecipam a síntese que o Nobel da Economia volta a referir. Merleau-Ponty, um filósofo fenomenologista francês (1908/1961) situou bem esta questão: "O meu corpo é o centro do Mundo, tomo consciência deste através dele".
Ora, o que James Heckman vem dizer é que não há política pública mais eficaz do que investir na Educação, só que os governos passam ao lado "porque a razão é económica". E adianta o rol das consequências: "(...) basta dizer que tentar sedimentar num adolescente o tipo de conhecimento que lhe deveria ter sido apresentado há dez anos sai algo como 60% mais caro". Portanto, estimular as capacidades cognitivas, isto é, conseguir olhar o mundo de uma forma mais abstracta e lógica, bem como desenvolver os estímulos relacionados com o auto-controlo, a motivação e o comportamento social, constituem factores que estão directamente relacionados com o sucesso escolar, num primeiro momento, e com o trabalho na idade adulta. Heckman vai mais longe quando sublinha que este é um processo que deve ser compaginado com as políticas de família. De facto, de pouco vale o que se faz num estabelecimento de educação se os pais não assimilarem as preocupações da educação que está a ser ministrada. E isto não não se consegue com grupos numericamente expressivos mas com turmas com poucos alunos em que os docentes possam fazer essa importante ponte entre a escola e a família. Só que isto implica trabalho e políticos responsáveis. Trago em memória Mark Twain: "para quem tem apenas um martelo como instrumento, todos os problemas parecem pregos". Parece ser esta a lógica do funcionamento do governo.
Pergunta o jornalista a J. Heckman: o que é que alguém que, não desenvolveu as principais habilidades nos primeiros anos de vida, pode esperar? Diz Heckman: "Essa pessoa terá, certamente, mais dificuldade em assimilar conhecimentos. Os números são espantosos. Uma criança de oito anos que recebeu estímulos cognitivos aos três conta com um vocabulário de cerca de 12.000 palavras, o triplo do de um aluno sem a mesma base precoce. E a tendência é para que essa diferença se agrave. Faz sentido. Como é que" se pode esperar que alguém que domine tão poucas palavras consiga aprender as estruturas mais complexas de uma língua necessária à compreensão de qualquer disciplina?" (...) o processo de "aprendizagem é mais lento" e daí surgem a desmotivação, os comportamentos inapropriados, o abandono, o insucesso, a criminalidade, etc., o que leva Heckman a dizer que "há ignorância (política) sobre o que a ciência já desvendou".
Voltando ao princípio, uma primeira conclusão: enquanto este governo não direccionar os investimentos para o sector da Educação, podemos estar certos que a Madeira continuará a apresentar resultados que não auguram um bom futuro. "Por cada euro investido na Educação de uma pessoa significa que ela produzirá algo como dez cêntimos a mais por ano e ao longo de toda a vida. Não há investimento melhor", diz James Heckman.
Nota:
Foto 1, retirada do Google imagens.

1 comentário:

Vilhão Burro disse...

Oh!Senhor Professor!
"Investir",isto é,promover a Educação?!
Então o Senhor Professor acha que o "único importante" cá do sítio alguma vez abriria mão do meu voto e dos meus compadres?!
Nem a brincar!
Quanto mais burros e dependentes, tanto melhor.