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terça-feira, 31 de maio de 2011

VIVA A "GORDURA" DA REGIÃO


A máquina está montada e oleada qb, entre câmaras e juntas de freguesia, as ligações umbilicais às instituições locais estão na perfeição, desde a casa do povo aos clubes, da banda de música às instituições de solidariedade social, da paróquia a tudo o resto. Mexer nisto, nesta espécie de "máfia boazinha", é colocar em causa equilíbrios que podem ser fatais. E isso o poder não quer. Melhor é deixar tudo como está, o caciquismo, o controlo sobre as pessoas, o trabalhinho e o favorzinho.


Não ouve nada do ouvido esquerdo!
O ainda presidente do Governo da Madeira assume que não haverá "reforma administrativa" na Região; vem o Professor Marcelo e diz que era o que faltava, todos estão obrigados a que isso aconteça. Logo a seguir, regressa o ainda presidente para sublinhar que, talvez, o Professor Marcelo não conheça todas a alíneas da Constituição, e pronto, o assunto ficou por aí. Sendo um assunto da MADEIRA, não deixa de ser curioso que nenhum órgão de comunicação social tivesse questionado o líder da oposição sobre esta matéria. Como se não existem eleições legislativas regionais dentro quatro meses e este constituir um assunto de relevante importância. Como se um elementar respeito pelo bom senso e até pelo contraditório não justificasse uma audição das partes envolvidas. Vou mais longe, ouvir o que pensam os partidos sobre esta matéria. 
Mas, percebo as razões que determinam que o PSD queira manter esta divisão administrativa que data de 1835. Porque esta divisão serve os interesses do partido do poder. A máquina está montada e oleada qb, entre câmaras e juntas de freguesia, as ligações umbilicais às instituições locais estão na perfeição, desde a casa do povo aos clubes, da banda de música às instituições de solidariedade social, da paróquia a tudo o resto. Mexer nisto, nesta espécie de "máfia boazinha", é colocar em causa equilíbrios que podem ser fatais. E isso o poder não quer. Melhor é deixar tudo como está, o caciquismo, o controlo sobre as pessoas, o trabalhinho e o favorzinho. Mexer significa, porventura, perder lugares de natureza política e isso também não interessa. Há, portanto, razões de sobra para que o ainda presidente não deseje alterações, sequer o estudo que conduza à definição de um desenho no sentido de uma melhor divisão administrativa, inclusive, na sequência do sistema viário entretanto construído ou melhorado. 
O Professor Marcelo já considerou a Região, com alguma deselegância, é verdade, "uma grande autarquia" (mas percebo o sentido), o ainda presidente, embora saiba que é possível e desejável reduzir o número de Câmaras (11) e de Juntas (54), obviamente que não lhe interessa, apesar de isso acarretar substanciais encargos que poderiam ser evitados. Da mesma forma que não quer mexer na organização institucional extremamente pesada de tudo o que é tutelado pelo governo regional. Há Secretarias a mais, direcções regionais a mais, directores de serviço a mais e chefes de divisão a mais. Mas esse peso a mais, essa região gorda que temos, na opinião do ainda presidente justifica-se, pois aí se encontra a estrutura fundamental, o coração político da máquina PSD que resolve o problema eleitoral. Ora, debater isto é perigoso, daí que a conversa fique entre o de cá e um de lá. Por aí fica, como se alternativas não houvesse.
Ilustração: Google Imagens.

PORTUGAL NÃO PRECISA DE UM BARÍTONO QUANDO TEM UM TENOR


Sócrates continua a ser o mau da fita, o culpado do colapso do Lehman Brothers e de toda a cadeia financeira que arrastou todo o mundo, repito, todo o mundo, para uma crise que não há memória. Comentadores e outros fazedores de opinião, comunicação social de memória curta, pessoas sem pensamento económico-financeiro e incapazes de relacionarem factos, as causas, a própria debilidade da União Europeia, os especuladores e as famigeradas agências de rating que armadilharam Portugal, todos ou quase todos, se esqueceram deste quadro e toca a encontrar a vítima. Obviamente, Sócrates! Por isso, aquela senhora tem razão, do alto da sua humildade, desferiu a setença que outros não conseguem interpretar (...)


As campanhas eleitorais são férteis de episódios. Uns, confesso, que desagradam, pela postura radical e ofensiva das pessoas (poucas); outros, deixam-nos a pensar. Os que me desagradam prendem-se mais com a falta de educação. Para mim é pacífico uma pessoa rejeitar um desdobrável com a mensagem política. Mas há maneiras, obviamente. Basta um sorriso, um obrigado e, por exemplo, "já tenho". Agora, aproveitar o momento para soltar todas as angústias, mas de uma forma inconveniente e formatada parece-me totalmente desajustado e próprio de uma democracia ainda cheia de fragilidades. Neste caso, quando a campanha se desenrola numa Região governada há 36 anos anos por um mesmo partido. A oposição não pode ser culpada do desvario. E se existem justificadas angústias, essas devem ser dirigidas àqueles que tiveram a responsabilidade de tornar a Região próspera e não o fizeram.
Mas, como vinha a dizer, outros episódios são interessantes e permitem aferir o pulsar do povo. Ontem, pela tarde vivi um deles. No centro do Funchal, o grupo que eu integrava entrou num bar onde se encontravam várias pessoas em redor de uma mesa. Palavras de circunstância para cá e para lá e, uma senhora olha-nos e despacha: "eu vou votar Sócrates e sabem porquê? Porque há seis anos que anda a ser ofendido por todos, inventaram tudo e mais alguma coisa para derrubá-lo e nada provaram". Ouvi, rapidamente reflecti em toda a história e fiz-lhe um aceno de simpatia pelas suas palavras. De facto, olhando para trás, do ponto de vista político é evidente que há decisões de José Sócrates face às quais não me revejo, mas tenho de convir que se trata de um político com uma notável capacidade para suportar todas as "agressões" e até uma certa vandalização da sua vida privada. Outro, certamente, já tinha mandado tudo às malvas! Mas, não, manteve-se na luta pelas suas convicções, sobretudo após a forma abrupta como este mandato foi interrompido. Poderiam ter deixado a Legislatura chegar ao fim, mas não, a ânsia de poder foi mais forte. Tenho presente as recentes declarações da Drª Manuela Ferreira Leite, absolutamente desagradáveis e antidemocráticas, ao ponto de ter dito que José Sócrates nem como deputado na oposição. Isto, no plano da vivência democrática não tem qualificação. Cheira a vómito e a vingança por ter perdido as eleições de 2009.
Como já tive a oportunidade de referir em um outro texto, na esteira das palavras que ouvi daquela eleitora, o bom senso aconselha que se coloque nos pratos da balança o que de bom foi realizado, ao lado daquilo que se discorda. Tudo e de todos os sectores e áreas da governação, inclusive, todos os factores externos que influenciaram a governação. Ora, José Sócrates, de início, quando não se vislumbrava a existência de uma grave crise financeira (ninguém foi capaz de a prever), sucessivamente, confrontaram-no com as habilitações académicas, o caso dos lixos da Cova da Beira, os projectos que terá assinado, o processo "Freeport", os apartamentos de sua mãe, o caso "Face Oculta" e a sucata de Ovar. Lembro-me destes, porventura escapam-me outros. Eu sei lá, não houve mês que não tivesse surgido e alimentada uma qualquer difamação. Digamos que ele conseguiu surfar todos esses problemas, em nenhum dos quais provada a sua responsabilidade. Por aí, eu diria que se esgotaram os cartuchos, pois até o défice foi reduzido a olhos vistos, de 6,83% para menos de 3%. Depois, estalou a crise e, de forma progressiva o ataque regressou, desta feita de baterias apontadas em função do quadro que todos conhecemos. E, assim, Sócrates continua a ser o mau da fita, o culpado do colapso do Lehman Brothers e de toda a cadeia financeira que arrastou todo o mundo, repito, todo o mundo, para uma crise que não há memória. Comentadores e outros fazedores de opinião, comunicação social de memória curta, pessoas sem pensamento económico-financeiro e incapazes de relacionarem factos, as causas, a própria debilidade da União Europeia, os especuladores e as famigeradas agências de rating que armadilharam Portugal, todos ou quase todos se esqueceram deste quadro e toca a encontrar a vítima. Obviamente, Sócrates!Por isso, aquela senhora tem razão, do alto da sua humildade, desferiu a sentença que outros não conseguem interpretar, porque outros valores e interesses se levantam. E atenção, eu até sou daqueles que defende que um povo inteligente não permite que um poder por lá se mantenha mais de duas legislaturas. A terceira já me cheira mal, porque gera raízes perniciosas. O que temos na Madeira é um exemplo perfeito. Depois, porque a criatividade e a inovação está mais do lado da oposição do que do lado do poder. Ora, neste aspecto, não tenho dúvidas que foi a ânsia de poder a qualquer preço e não os interesses da Nação que estiveram em jogo, aquando da interrupção da legislatura. Curiosamente, depois de tanto fogo, de tanto comentário influenciador do eleitorado, o povo ainda lhe concede 36%, isto é, um empate. Porquê? Os comentadores que meditem! Domingo veremos qual o veredicto do Povo.
Ilustração: Google Imagens

segunda-feira, 30 de maio de 2011

MONSTROS QUE FAZEM PARTE DO NOSSO QUOTIDIANO


"Para mim, a sociedade deve centrar-se nas pessoas e são os direitos dos povos que orientam o mundo. Ora, não é assim que hoje acontece. As pessoas são designadas e tratadas como “recursos” (humanos, claro), mercadorias substituíveis a qualquer momento. Criaram-se novos deuses: a Economia, o Mercado, a Eficácia, a Avaliação de tudo e o tempo todo e sempre com letra grande. Só as pessoas continuam com letra pequena".

Ontem fiz aqui referência a uma entrevista com a Professora Doutora Ana Benavente, ex-Secretária de Estado da Educação. Trata-se de uma reflexão de extrema importância. Aos leitores que desejem ler toda a entrevista, poderão fazê-lo, através do Google: "Revista Lusófona de Educação", nº 16, 2010. Deixo aqui uma primeira parte que nos permite reflectir profundamente.
"Vou tentar sistematizar os pontos mais positivos e os mais negativos dos últimos anos, em que se misturam características nacionais e as dependências internacionais.
Em termos nacionais temos menos pobreza, temos. Crescemos e melhorámos de vida. O “povo” organizou-se como sujeito interveniente, nomeadamente através dos sindicatos e já não se cala frente ao poder absoluto de quem quer que seja. Mas perdeu poder, delegado em partidos cada vez mais parecidos (refiro-me ao Partido Socialista e ao Partido Social-Democrata, que alternam no governo há muitos anos). O fosso entre o mundo rural e urbano continua enorme. A televisão fez a sua entrada num país pouco escolarizado e com baixos níveis de literacia. O consumo veio calar solidariedades e lutas por mais justiça social. O Estado português, embora modernizado e com alguns serviços mais eficazes, guardou os seus piores aspectos de estado abusador e sem respeito pelos cidadãos. A cidadania é de longa construção, eu sei, na sua globalidade, mas sobretudo nas suas dimensões política e social, na participação e na responsabilidade cidadãs, mas entre nós está a ser muito lenta e de progressão não linear.
As fronteiras abriram-se e a emigração já não se faz “a salto”, mas sim com passaporte na mão (é hoje um direito de todos mas antes de Abril só era concedido a alguns). Para além de país de emigrantes, somos também um país de imigrantes. Convivemos bem com eles, mas basta um momento mais agudo de crise económica para os “bodes expiatórios” voltarem a estar na berlinda.
Estradas, muitas estradas, atravessam hoje o país, com uma frota automóvel idêntica à dos outros países europeus. Mas o caminho-de-ferro ficou para trás e pouco nos preocupámos com ambiente, sustentabilidade e essas coisas de esquerdistas (agora, os senhores do mundo já descobriram que a questão é séria).
Aumentou fortemente a escolarização e foram feitas diversas tentativas para democratizar a escola, transformando os seus conteúdos e as suas práticas para que todos pudessem apropriar-se dos saberes que apenas servem alguns – as elites, neste caso. Mas as margens de liberdade são estreitas e sempre contrariadas pelas tendências “pesadas” que nos vêm das organizações internacionais – OCDE’s e afins e que revelam sinais preocupantes de fazer da educação mais um bem de mercado (Mercado, um dos novos “deuses”, abstractos e de que todos fazemos parte, afinal).
Um breve parêntesis para referir que, de qualquer forma, e teremos certamente ocasião de voltar a este assunto, as práticas e as políticas precursoras, pioneiras, inovadoras têm o seu pleno lugar na vida das sociedades, ainda que sejam muitas vezes aparentemente negadas e contrariadas nos tempos que se lhes seguem.
Apesar disso, hoje os jovens portugueses viajam, estudam noutras escolas, vivem num mundo aberto e cheio de desafios, o que é excelente, mas também cheio de inseguranças, a resvalar para a agora chamada “esquerda moderna”, que significa perda de direitos e menor justiça social.
Se a entrada na União Europeia foi muito positiva, acabando de vez com o “orgulhosamente sós”, máxima de que o velho ditador tanto gostava, de lá vieram muitos fundos, mas com eles vieram também os modelos de desenvolvimento centrados nos mercados sem controlo, novas burocracias e imposições que nos esmagam.
Esbateram-se as diferenças entre a “esquerda” e a “direita”, o que cria um terrível sentimento de impotência nas escolhas políticas das pessoas.
Do lado positivo, num balanço social forçosamente esquemático, refiro, pois, a escolarização, a abertura das fronteiras, o aumento dos níveis de vida, alguma mudança nos costumes, uma maior tolerância à diferença.
Mas se a globalização derrubou muros,  também criou muitos outros, é bom lembrar (e não me refiro apenas ao da Palestina e ao muro entre o México e os USA).
Ficámos reféns da especulação financeira e seriam necessários muitos mais Obamas para que a globalização perdesse a sua face mais cruel e destruidora.
Para mim, a sociedade deve centrar-se nas pessoas e são os direitos dos povos que orientam o mundo. Ora, não é assim que hoje acontece. As pessoas são designadas e tratadas como “recursos” (humanos, claro), mercadorias substituíveis a qualquer momento.
Criaram-se novos deuses: a Economia, o Mercado, a Eficácia, a Avaliação de tudo e o tempo todo e sempre com letra grande. Só as pessoas continuam com letra pequena.
O crescimento da urbanização trouxe mais liberdade individual mas trouxe também mais servidão e anonimato. Claro que não defendo que o tempo volte para trás (é a letra de um fado), de modo algum. Trata-se, sim, de analisar o nosso país e a sua inscrição no mundo com lucidez, sentido crítico e com coragem (refiro-me aqui ao livro de Cynthia Fleury – La fin du courage).
A evolução do estatuto da mulher, fenómeno que também partilhamos em Portugal, e que nos permite hoje uma prática plena de cidadania, ainda nos deixa marginais e dependentes nos domínios da decisão, nos órgãos de Estado, no Parlamento, nos órgãos empresariais. O que significa uma cidadania “vigiada” e uma cidadania “mutilada”, porque plena na Lei e parcial na prática.
É curioso que, pertencendo nós ao dito “primeiro mundo” (dentro do qual existe o “quarto mundo”, o dos pobres e excluídos, La fin du courage). A evolução do estatuto da mulher, fenómeno que também partilhamos em Portugal, e que nos permite hoje uma prática plena de cidadania, ainda nos deixa marginais e dependentes nos domínios da decisão, nos órgãos de Estado, no Parlamento, nos órgãos empresariais. O que significa uma cidadania “vigiada” e uma cidadania “mutilada”, porque plena na Lei e parcial na prática. É curioso que, pertencendo nós ao dito “primeiro mundo” (dentro do qual existe o “quarto mundo”, o dos pobres e excluídos, é bom não esquecer), confrontamo-nos com três problemas que tornam a felicidade mais improvável: a depressão – os europeus são, certamente com os americanos, os maiores consumidores de anti-depressivos, a obesidade que já atinge os mais novos e a velhice. Se o prolongamento da vida é um bem, fruto do desenvolvimento, o modo como tratamos os nossos velhos é terrível, apesar de algumas medidas positivas mas ainda insuficientes.
Aliás, embora não seja pessimista e me envolva sempre em causas de luta contra a indiferença, acho que há fortes tendências em Portugal para a emergência de uma sociedade institucionalizada. Os mais novos vivem em creches, jardins-de-infância e escolas (a tempo inteiro, muito extenso, se faz favor), os mais velhos vivem cada vez mais sós ou em lares e residências e os “adultos” em idade activa e produtiva (que barbaridade!), vivem em liberdade vigiada, prisioneiros do consumo, nas casas que podem pagar, nos lugares em que podem habitar, batendo-se pelo emprego, muitas vezes dominados pelo medo do desemprego. Ora o medo é, para mim, o pior dos ingredientes sociais.
Na sociedade portuguesa actual, o poder é do capital internacional, sem rosto e sem nome. Embora tenha rostos e nomes, evidentemente. Nada do que vivemos é alheio a pessoas bem concretas. Mas não sabemos quem são, individualmente. A Europa tornou- se num espaço nivelador e medíocre de modelos de sociedade sem futuro. Não será por acaso que, actualmente, os partidos de direita crescem em todas as eleições europeias, da Holanda à Suécia. Há um imenso mal-estar, falta de esperança e de participação activa das pessoas nas suas vidas. Sentem-se “vítimas” de algo que lhes escapa, têm medo.
Novos “monstros” fazem parte do nosso quotidiano. Agora é o défice externo que leva o Governo, no caso português um Governo de um Partido Socialista que se tornou mais liberal que os próprios liberais, a massacrar os mais pobres, funcionários públicos e pensionistas, sempre os mesmos, os que estão mais à mão. E os emigrantes que se cuidem. Na Itália de Berlusconi e na França de Sarkozy, a exclusão já começou, sem vergonha.
Se é verdade que há hoje mais democracias no mundo e que as ditaduras têm a vida mais difícil, também é verdade que as democracias, e a nossa em particular, atravessam tempos difíceis. Que as dinâmicas sociais são assim mesmo, com ciclos, não tenho dúvidas, mas considero que temos que repensar os parâmetros da própria democracia. É um processo constante de que não nos podemos alhear, o da democratização da democracia. E estamos, parece-me, a afastarmo-nos perigosamente desse caminho.
Claro que também há quem pense em como construir uma “Boa sociedade”, mas esses movimentos têm pouca expressão apesar da sua urgência.
Estou convicta de que essa construção é possível, impondo a prioridade do bem comum, o direito ao trabalho digno e bem remunerado, desenvolvendo os direitos de cidadania, diversos e multiculturais. A regulação dos mercados financeiros e políticas públicas que visem mais justiça social e melhor qualidade de vida para todos, parece-me serem corolários de uma “Boa sociedade”, tal como a entendo. Uma sociedade que domine a tecnologia e não seja sua escrava, que ponha a sociedade do conhecimento ao serviço das pessoas, que não confunda desenvolvimento com desregulação dos direitos individuais e colectivos. Sejam direitos de primeira, segunda ou de terceira geração (falo dos direitos económicos e sociais e dos “novos direitos” – ambiente, etc.). Em síntese, os últimos 20 anos da sociedade viram a emergência de algumas medidas sociais positivas – refiro o rendimento social de inserção, antes inexistente, o atendimento aos mais velhos, que se impôs como uma questão colectiva, a educação pré-escolar, na sua vertente de democratização da escolaridade (Educação para Todos) e a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, acabando com a hipocrisia até então reinante. Salvo estas “luzes” no nosso passado recente,  sinto, sinto que fomos deslizando para as piores dimensões da globalização. Escravos de instituições económicas internacionais, passados pelas “rasoiras” uniformizadoras e medíocres dos mais fortes, aqui estamos, os pobres dos ricos, a oferecermo-nos como “recursos”, que afinal são mais baratos noutros lugares do mundo. Falta debate, falta reflexão partilhada, falta intervenção crítica e foi faltando cada vez mais nos últimos 20 anos. Estamos mais “despolitizados”, com dirigentes padronizados e muito aquém do nível que os tempos pedem. Valer-nos-ão de alguma coisa as novas redes sociais na net?
O que sei é que no dia em que respondo à sua difícil pergunta, estamos mergulhados na “crise”. Basta ler os jornais, ouvir as pessoas e ver a TV. Mas não se discute quem são os responsáveis pela crise; não se discute esta espécie de fatalismo económico em que caímos nem as formas de sair dele. E não seria assim tão difícil… Mas aqueles a quem esta desconstrução interessa, não têm mostrado força para o combate político e social.
Onde está a esperança e a força do povo? É urgente reconstrui-las. E para isso, é urgente desenvolver o pensamento político e a intervenção social fundamentada. Aprofundar a cidadania, em suma.
Construir um mundo melhor é possível, mas para isso urge pensar em novas formas de luta que ponham em causa o modelo económico e social em que vivemos".

domingo, 29 de maio de 2011

FMI (PARTE I)



Estou a ler uma notável entrevista da Doutora Ana Benavente, publicada na Revista Lusófona de Educação, que ela, recentemente, me ofereceu. O título: "A Educação contra a exclusão e pela democracia". Logo no início, Ana Benavente desafaba: "Volta com o teu FMI, José Mário Branco, é urgente e actual".
Aqui fica. Vale a pena escutar. A parte II está disponível no Youtube. E vale sobretudo a pena ler as 15 páginas da entrevista (Novembro de 2010).

É A POLÍTICA DO VALE TUDO


A desproporção dos meios de fazer passar a mensagem política é absolutamente desproporcional. Todos os partidos com um "manifesto" (um papelinho) contra a força de um jornal de borla, ao qual se juntam onze câmaras, 47 freguesias, casas do povo, bandas de música, quase todo o associativismo desportivo, cultural e de solidariedade, subsídios a rodos e ausência de debates. E durante a campanha, obviamente, muita carne, vinho e bolo do caco por todos esses sítios.


A história não é nova, pois há quanto tempo é assim. Porém, hoje, proporcionou-me uma reflexão mais fina. Em campanha eleitoral, em conjunto com vários amigos, percorremos as saídas de Missa, desde a das 08 da manhã, no Monte, até ao meio-dia e meia em S. Pedro. Este foi o programa da equipa que integrei. Do Monte para os Álamos, depois para S. José, Colégio, Livramento, S. Roque e S. Pedro. Trata-se de uma tarefa que cumpro, mas que, sinceramente, não gosto. É altura, aliás, de todos os partidos deixarem este formato de campanha. Curiosamente, disto falei a um outro partido corrente com quem me cruzei nos Álamos. A opinião foi a mesma. Mas, enfim, essa é uma outra história que merece uma séria reflexão por parte de todos.
É de um outro assunto que aqui venho discorrer.
Estava eu nas escadarias da Igreja do Colégio e, mesmo ao lado, o ardina do Diário de Notícias bem se esforçava por vender o seu produto. Vejo-o ali todos os dias. Abeirei-me e questionei-o se as vendas iam bem. Respondeu-me: "muito mal" (...) "o Jornal da Madeira coloca ali dentro da Igreja entre 100 e 150 exemplares, as pessoas levantam de borla e eu aqui fora não tenho possibilidades de vender o Diário". Respondi-lhe: "nem respeitam o espaço da Igreja".
Ora, isto não tem nada de novo. Há muito que é assim e em praticamente todos os templos. O Senhor Bispo deixa, os párocos a isso penso que são "obrigados" e assim se constrói o desvirtuamento das regras de mercado e, tão grave quanto isso, assim se corrompe a opinião pública através destes milhares de exemplares (15 a 20.000), pago por todos os madeirenses, mas com a chancela e a propaganda do PSD e do governo regional. Pagamos todos para sermos desrespeitados. A desproporção dos meios de fazer passar a mensagem política é absolutamente desproporcional. Todos os partidos com um "manifesto" (um papelinho) contra a força de um jornal de borla, ao qual se juntam onze câmaras, 47 freguesias, casas do povo, bandas de música, quase todo o associativismo desportivo, cultural e de solidariedade, subsídios a rodos e ausência de debates. Mas o Senhor Presidente da República considera isto normal, que a Constituição está a ser respeitada e, para a Comissão Nacional de Eleições, retirando a voz firme do Delegado na Madeira, o tempo de antena do PND é que era ofensivo. O resto, não. O resto é legal!!! 
Ah, esquecia-me, e durante a campanha, obviamente, muita carne, vinho e bolo do caco por todos esses sítios, não apenas nos actos inaugurais, aproveitados também, para mais um comício da cor. Dizia-me um eleitor em S. Roque: "este povo anda cego". Eu percebi o que me quis transmitir, mas a cegueira tem aqui outros contornos: se é pobre, luta por um saquinho de cimento, um moio de areia, um saco de compras, um subsídio da segurança social, o que o faz entrar num círculo vicioso do qual não sabe sair; se é rico, toca a manter este estado de coisas e a aproveitar a desgraça para somar mais algum; se pertence à teia do poder, o melhor é andar aí caladinho, vendendo a alma ao diabo até ver o que isto dá. Grosso modo, o quadro é este e, portanto, a 05 de Junho, questiono-me, se podemos esperar, na Madeira, por um resultado que abra as portas à esperança de uma efectiva mudança política nas eleições regionais de Outubro? Manterei a esperança, como sempre o fiz, mas...
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 28 de maio de 2011

PORQUE HOJE É SÁBADO...

MUDAR... MAS COMO?


Mais à frente, o mesmo cenário, um homem aí pelos 30 anos, a mesma aproximação e uma resposta: "Ah senhore, eu precise é de dinheire, nã é de papeles". Fiquei em silêncio. O que dizer numa situação destas? O que significa aquele desabafo no quadro da pobreza, da ausência de respostas da organização social e, certamente, da impossibilidade de ele próprio, jovem, dar uma volta à sua vida? Que palavras podem ser transmitidas naquela circunstância que é de apressada passagem...


Gente manipulada e frágil,
ao mesmo tempo sofredora,
criada na teia e que dela não consegue
se libertar.
A campanha eleitoral tem momentos muito interessantes, pela possibilidade que oferece de um contacto directo com as pessoas. Há quem se aproxime, que elogie o esforço e a mensagem, que receba os manifestos eleitorais, mas também vivemos momentos de uma significativa angústia, pelas palavras depreciativas que são ditas, pelo alheamento dos assuntos que a eles dizem respeito, enfim, por inúmeras situações que constrangem, trinta e tal anos depois de Abril.
Esta manhã ouvi duas frases, das tais que deixam um rasto de angústia. Foi em Câmara de Lobos, mesmo no centro, eram aí 10 horas, dezenas de homens entretinham-se em jogos de cartas, outros já de cerveja ou poncha goela abaixo. Este é apenas um pormenor que me ressaltou à vista, como enquadramento da situação. Aproximei-me de um grupo e, pedindo licença, perguntei se podia deixar o manifesto eleitoral. Um, talvez aí pelos 45 anos, disse-me: "para quê, eu não sei ler!". Confesso que esta situação constrange-me. Admitamos que este homem não tem 45 mas 50 anos de idade. Há 37 anos, em Abril de 1974, este homem tinha 13 anos. Pergunto, que andou o sistema educativo a fazer durante todo este tempo, ao ponto de ter sido incapaz de "agarrar" uma geração, libertando-a das amarras do analfabetismo? E como este, são às centenas, região fora, a juntar àqueles que sabendo ler e escrever o essencial, estão bloqueados no que concerne à capacidade de tratamento da informação que o rodeia.
Mais à frente, o mesmo cenário, um homem aí pelos 30 anos, a mesma aproximação e uma resposta: "Ah senhore, eu precise é de dinheire, nã é de papeles". Fiquei em silêncio. O que dizer numa situação destas? E o que significa aquele desabafo no quadro da pobreza, da ausência de respostas da organização social e, certamente, da impossibilidade de ele próprio, jovem, dar uma volta à sua vida? Que palavras podem ser transmitidas naquela circunstância que é de apressada passagem, de um fugaz cumprimento, entrega do manifesto e sempre em frente? Para mim, confesso, é uma dor.
Depois, sobressai uma outra leitura: esta gente, pela história de todo o processo político-eleitoral da Madeira, tem votado, maioritariamente, no PSD. Será que conseguem perceber que têm votado contra os seus próprios interesses? Que, o não saber ler, limitação gravíssima na afirmação social, e o não dispor de dinheiro, que os atira para as margens da sociedade, tem muito a ver com quem governou, ininterruptamente, a Região, durante trinta e tal anos? Perceberão isto? Estou convencido que não. Obviamente, tarde ou cedo, acabarão por se revoltar, mesmo sem saberem ler! 
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

PORQUE HOJE É SEXTA...

ESTÁDIO DO DRAGÃO

Um neto fervoroso adepto do F. C. Porto.
O avô nutre simpatia pelo Benfica.
Tempos diferentes... Mas ainda vai a tempo!
Parabéns pelos cinco anos. Adoro-te. 

SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA: NÃO NOS INSULTE!


E se ganhar a direita mais à direita? A do FMI ainda mais FMI do que o próprio FMI? Não é o povo que perde? A que já se deleita com as privatizações para as quais lhes abriram as portas? A direita que dispara em todas as direcções, sem pudor. A direita que se afirma como nova, desfasada, com a cartilha pouco sabida, procurando ignorar o poder que exerceu e o modo como o fez. Mas nós, Marias e Josés, não nos podemos esquecer dos cavaquismos, dos fundos europeus e dos seus destinos, do país do betão em que as pessoas se tornaram meros “recursos” de uma economia com o rei na barriga.

A minha Caríssima Amiga Doutora Ana Benavente, também ela assina hoje, no Jornal PÚBLICO, uma notável reflexão sobre o momento que estamos a viver. Excelente. Fica aqui um excerto desse texto que ela me fez o favor de remeter.
"(...) Desde que esse trio nos dá ordens (trio que não foi democraticamente eleito, ou teremos votado nos FMI? Digam-me lá quando foi, que eu não me lembro) estamos mais bem informados sobre os desafios actuais da União Europeia? Das forças que se cruzam e confrontam, das decisões, das fraquezas, dos perigos? Dos projectos, dos acordos, das perspectivas esperançosas? Como estão a Grécia e a Irlanda, melhor com os antibióticos? Ou pior? Ou sem saídas à vista?
Os países são habitados por povos e os povos são pessoas e se algo aprendemos (ou não?) como século XX que há pouco deixámos foi que os grandes desastres negaram sempre os direitos individuais – e colectivos – em nome de uma “razão”, de uma “ordem”, de um “projecto”. Com excepção dos escritos de Rui Tavares, são escassos os deputados europeus que se preocupam em informar, debater, dialogar com quem os elegeu. E faz-nos muita falta, porque a Europa somos nós, mas não a vivemos como tal, sofremo-la, surpresos, e isso é uma perversão da democracia e da Europa dos cidadãos.
E se ganhar a direita mais à direita? A do FMI ainda mais FMI do que o próprio FMI? Não é o povo que perde? A que já se deleita com as privatizações para as quais lhes abriram as portas? A direita que dispara em todas as direcções, sem pudor. A direita que se afirma como nova, desfasada, com a cartilha pouco sabida, procurando ignorar o poder que exerceu e o modo como o fez. Mas nós, Marias e Josés, não nos podemos esquecer dos cavaquismos, dos fundos europeus e dos seus destinos, do país do betão em que as pessoas se tornaram meros “recursos” de uma economia com o rei na barriga. Aliás, aí está o Senhor Presidente da República, moralista e pai castigador, a ralhar connosco, que trabalhamos mal e poupamos pouco. Nós, os mesmos que noutros países trabalhamos como os melhores. Nós, os bombos da festa deles. Nós que, nas palavras de hoje mesmo de Sua Excelência, “precisamos de alguma diversão para animar a malta”. Não nos insulte.
Ilustração: Google Imagens. 

A INDÚSTRIA FINANCEIRA GLOBAL


Onde está a solidariedade europeia? É, isso sim, um grande negócio da hegemónica Indústria Financeira global: emprestar dinheiro a países em dificuldades para enriquecer a nova aristocracia do dinheiro.

Tenho particular admiração pela Drª Júlia Caré, ex-Deputada na Assembleia da República. Trata-se de uma Mulher de valores. O seu artigo de opinião, hoje publicado no DN-Madeira, vale a pena ser lido com toda a atenção. O excerto que abaixo reproduzo transporta o significado da necessidade de uma nova ordem mundial, desde logo, uma nova ordem nesta Europa facilitadora e potenciadora da Indústria Financeira, onde vale mais o lucro do que as pessoas.
"(...) É preocupante o conformismo, a resignação, a indiferença desistentes do tipo não há mais nada a fazer, não há outra saída. Desiludidos mas lúcidos temos que votar, ou referendar ou plebiscitar aquilo que vontades externas, aparentemente desejosas de nos ajudarem, ou apostadas em negociar com a nossa incúria e penúria, nos pretendem impor com a ajuda de fiéis servidores, cá de casa, como o único caminho para a salvação. De uma coisa podemos estar certos: chamar o entendimento com a troika de ajuda, é ofender o conceito de cooperação, face à dimensão dos juros acordados. Onde está a solidariedade europeia? É, isso sim, um grande negócio da hegemónica Indústria Financeira global: emprestar dinheiro a países em dificuldades para enriquecer a nova aristocracia do dinheiro (veja-se o filme "Inside Job: A verdade da crise") cuja cartilha é balizada pela completa desregulação social, laboral e económica, servida pela ideologia dominante da lógica irracional do mercado. Os vendilhões do templo ameaçam a democracia".
Ilustração: Google Imagens.

SE ELE É ASSIM NA MONTRA, O QUE NÃO ESCONDE NO ARMAZÉM DAS CONVICÇÕES POLÍTICAS


Privatizações, cuidado com elas, pois se uma determinada área de intervenção é boa para o privado que razões justificam não ser boa para o sector público? Há actividades que tem uma natureza abosultamente pública e outras que pertencem à esfera do privado. Não contem comigo para desarmar o Estado das responsabilidades que lhe compete, pois isso significa desarmar o próprio povo que deve servir.


Será necessária uma bússola?

Um candidato que escancara as portas ao ensino privado é óbvio que nutre desconfiança pela Escola Pública, direito de todos. Nutre desconfiança porque o privado já existe, enquanto opção complementar ao sector público, de livre escolha das famílias. Quando se reforça a tecla do privado é porque o seu interesse político move-se nesse sentido. Interessa pois saber que razões sustentam essa preocupação. Quando um candidato escancara a porta ao sistema de saúde privado, significa que nutre desconfiança pelo sistema público. Ora, também aqui o privado já existe, mas complementar do sector público. Uma vez mais quando se coloca no centro do debate o sector privado é porque as suas opções vão nesse sentido, isto é, no desmantelamento do sector público. Parece-me óbvio. Quando um candidato defende o contrato de trabalho verbal, obviamente que está a defender, concomitantemente, a desregulação e a instabilidade laboral. Quando um candidato aborda a Segurança Social como foi o caso, parece-me óbvio que, por detrás dessa abordagem, estão os interesses bancários e das seguradoras. Quando um candidato aborda a privatização da Caixa Geral de Depósitos, isto significa, parece-me óbvio, que a sua opção vai no sentido, entre outros aspectos, o da especulação. Tudo isto e muito mais foi dito e defendido pelo candidado do PSD. É claro que, depois, apareceu sempre um qualquer porta-voz a dizer que não é bem assim, o que o candidato quis dizer foi isto e não aquilo, enfim, treta!
Eu sou pelos direitos alcançados. Entendo que o Homem tem direito à Saúde e à Educação gratuita e tem direito a uma Segurança Social que o proteja. A organização do país é que tem de estar pensada no sentido do colectivo e não um colectivo a trabalhar para alguns... para os mesmos de sempre. Utopia? Não. Realidade, sim. Um país (ou região) que não desbarata meios, que investe nos sectores produtivos e que gera riqueza, um país (ou região) que aposta, decisivamente, na Educação, é óbvio que, tarde ou cedo, redistribui a riqueza de forma justa e equitativa. O processo contrário já é conhecido, é o que se assiste em toda a Europa, no nosso País em geral e, na Madeira, em particular: riquezas obscenas à custa de uma maioria cada vez mais pobre. Portanto, privatizações, cuidado com elas, pois se uma determinada área de intervenção é boa para o privado que razões justificam não ser boa para o sector público? Há actividades que tem uma natureza absolutamente pública e outras que pertencem à esfera do privado. Não contem comigo para desarmar o Estado das responsabilidades que lhe compete, pois isso significa desarmar o próprio povo que deve servir.
Ora, neste pressuposto, o discurso do Dr. Passos Coelho é claramente ultraliberal. E ele sabe ou já percebeu no decorrer da campanha, que esse é o caminho que não colhe na sociedade. Daí que ontem tenha piscado o olho à Igreja e aos movimentos anti-interrupção voluntária da gravidez (IVG). Depois de ter votado sim à IVG, no referendo, e de ter dito que deveríamos ir longe nesta matéria, vem agora dizer que o tema deve ser repensado... nhe, nhe, nhe... e se houver algum movimento de cidadãos, porque não um novo referendo. Sobre esta matéria, adianto que considero que ela é muito delicada, envolve múltiplas variáveis, é dramática para quem vive uma situação dessa natureza e, portanto, tem um foro muito íntimo que deve ser respeitado. Pessoalmente, não seria capaz de aconselhar uma interrupção, excluindo, naturalmente, os casos graves previstos na Lei 16/2007. Mas sou visceralmente contra o aborto clandestino, inseguro, conducente à morte e criminalizador para a mulher. Considero essa situação aberrante. Até porque uma mulher não aborta "por dá cá aquela palha". É penoso, traumatizante e os testemunhos falam por si. E sei que a legislação tem levado à dissuasão de muitas mulheres que solicitam a IVG e desistem após as consultas, que não há registo de mortes de mulheres (segundo julgo saber), que a saúde da mulher foi defendida e que nenhuma foi presa por ter interrompido uma gravidez.Tudo isto para dizer que o País dispensa políticos inseguros. Se em campanha são assim (na montra) imagino o que serão no governo (o que escondem no armazém das convicções  ) políticas
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

QUANDO SÃO NECESSÁRIOS 25 AGENTES, 4 CARROS PATRULHA E SEGURANÇAS PRIVADAS...


Conseguiram adormecer os milhares que se queixam em voz baixinha (à custa da rede tentacular de interesses) e aqueles que se opõem não vão presos (até ver) mas não contam (para já) com uma retaguarda consistente que coloque nos eixos os desmandos de trinta e tal anos de governação. Existe aqui uma ANP (Acção Nacional Popular) que apenas mudou de sigla (PSD), com "armas" diferentes, mais refinadas, onde ninguém vai preso ou é exilado, todavia com idênticos objectivos.


Inauguração de uma pista para patinadores.
"indiscutivelmente" uma grande prioridade
para a Madeira.
Quando são necessários 25 agentes da Polícia de Segurança Pública, 4 carros patrulha e outros seguranças de empresas privadas, para protegerem o presidente do governo regional e "comitiva" num acto inaugural, isto pressupõe um quadro de crescente e visível instabilidade. Creio que a Região está a passar pela fase psicológica, isto é, de progressiva contaminação das consciências mais livres e chegará o dia onde não haverá segurança que lhe valha. Ainda hoje, na edição do DN-Madeira, assinado por Paulo Gomes leio:
"E nós calamo-nos. Como aquela jovem que foi assaltada várias vezes e a polícia nem queria receber a queixa. Quantos polícias seriam precisos para prestar segurança a um cidadão ameaçado? Quantos polícias foram precisos para vedar a Praia Formosa ao PND? Qual era a ameaça? Suspenderam tempos de antena por compararem Jardim a Hitler, mas o que fizeram quando alguém chamou, para além de Hitler, Saddam e outros nomes ao actual PM? E o que fazem quando o senhor Cardoso apelida de nazis, fascistas e outros carinhosos nomes os do contra? E o que fizeram quando impediram o deputado Coelho de entrar na Assembleia? E as agressões que ocorreram aí? Nada. Por isso não me venham com a treta de ter que provar que na Madeira estamos numa ditadura. Ou que há corrupção. O povo não será cego para sempre. Mesmo que não queira ver, até o cheiro pode denunciar".
Concordo. Embora em contextos diferentes começo a sentir-me antes do 25 de Abril. Com uma agravante: antes o combate à ditadura registava uma frente que era perseguida, presa, exilada ou torturada, enquanto outros, milhares, sofrendo em silêncio, esperavam pelo dia D. E lá iam fazendo o que podiam, sempre que possível metendo o pauzinho na engrenagem. O objectivo da luta estava perfeitamente definido. Hoje, está pior. O alvo é difuso. As culpas são de cá, dos órgãos de governo próprio, mas a uma só voz, os apaniguados despacham para lá as causas do sofrimento dos madeirenses e porto-santenses. Conseguiram adormecer os milhares que se queixam em voz baixinha (à custa da rede tentacular de interesses) e aqueles que se opõem não vão presos (até ver) mas não contam (para já) com uma retaguarda consistente que coloque nos eixos os desmandos de trinta e tal anos de governação. Existe aqui uma ANP (Acção Nacional Popular) que apenas mudou de sigla (PSD), com "armas" diferentes, mais refinadas, onde ninguém vai preso ou é exilado, todavia com idênticos objectivos.
Porém, é sensível, por um lado, a existência de um ambiente psicológico (em vários sectores da população), por outro, um ambiente de receio (governo). E tanto assim é que o presidente do governo da Madeira, ainda ontem, deixou escapar que admite "uma escalada da violência". De que está à espera? Se semeou ventos só pode colher tempestades. Infelizmente, digo eu, porque a minha concepção da Democracia não se enquadra nem na longevidade nos cargos, tampouco nos actos de violência.
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"COISAS NO SÍTIO"


Então o homem que assim prega, que pede à Assembleia para não levantar a imunidade parlamentar para que o Tribunal possa fazer justiça, pode falar de "coisas lá no sítio"? E quando foge a todos os debates na Assembleia, tê-los-á "no sítio"? E quando não aceita debates na televisão, frente aos seus opositores, demonstra que os tem?


A brejeirice chegou à campanha do PSD-M. O candidato primeiro trouxe para o discurso, ali para os lados da Ponta do Sol, histórias de homossexuais, heterossexuais, mudanças de sexo e por aí fora, ao ponto de ter falado de quem tem testículos e de quem não os tem. Arengou em cima do palco qualquer coisa à volta de homens que passam a ser mulheres sem "as coisas lá no sítio" e de mulheres que podem ser homens mesmo "continuando com as coisas lá no sítio". E os apaniguados aplaudiram o espectáculo degradante ao som do “paz, pão, povo e liberdade”… para alguns. Enfim, que grande contributo para resolver os problemas da Madeira! Que grande projecto político de mudança! Os problemas dramáticos resultantes de 13,9% de desemprego, de seis mil milhões de dívidas, dos empresários aflitos, a preocupante pobreza, a privatização da saúde e da educação, esses não contam, importante é manter o circo e a palhaçada entre um naco de carne e um copo.
Escutei aquele comicieiro arroto político e comentei: mas afinal, política e metaforicamente, claro, quem os não tem no sítio? Então o homem que assim prega, que pede à Assembleia para não levantar a imunidade parlamentar para que o Tribunal possa fazer justiça, pode falar de "coisas lá no sítio"? E quando foge a todos os debates na Assembleia, tê-los-á "no sítio"? E quando não aceita debates na televisão, frente aos seus opositores, demonstra que os tem? Quando, aqui, fala de pulmão cheio, e lá, pia fininho e com salamaleques, demonstra “coisas no sítio”?
Oh, Povo, acordai!
NOTA:
Artigo de opinião, da minha autoria, publicado na edição de hoje do DN-Madeira.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

POR ONDE ANDA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA?


Tudo isto se compagina na ideia central que ele deseja e que está em permanente construção na sua arquitectura político-partidária: um povo anestesiado (inclusive, pelo sistema educativo), um partido a seus pés, Justiça controlada e Comunicação Social ao jeito de um "Madeira Livre" (órgão de comunicação social do PSD). 


Com que então... "há dois sectores que têm que ser mesmo saneados. A Justiça e a Comunicação Social". Nem mais. Quem o disse foi o presidente do governo regional da Madeira.
Numa Democracia vivida de forma plena, sentida em toda a sua extensão, esta declaração era suficiente para perder as eleições. Ao falar de saneamentos, o ainda presidente demonstra, inequivocamente, o seu lado ditatorial e autocrático, coisa que ninguém pode ou deve tolerar. Mas, depois, fala da Justiça e da Comunicação Social, o que significa, relativamente à Justiça, que, para ele, os Magistrados ou estão e decidem de acordo com os cânones político-partidários do seu poder ou têm à sua espera uma espécie de "gulag" dos tempos modernos. O mesmo para a Comunicação Social, isto é, ou vergam-se face ao que o poder quer que seja publicado ou, então, o saneamento sem dó nem piedade. E a palavra saneamento, neste contexto regional tem um significado, eu diria, "raffiné". Por mais voltas que se queira dar no sentido de atenuar aquela declaração, não encontro outros significados senão estes. 
O problema é que as pessoas passam por isto como uma declaração normal. Trata-se da normal anormalidade do regime. Já ninguém liga, nem os próprios agentes da comunicação social reagem. E quando digo reagem é no sentido de "acabar" politicamente com esta figura que tão maltrata os profissionais deste sector. Lembro-me, referindo-se aos jornalistas, da história "de uns bastardos para não lhes chamar filhos ...". Tudo isto se compagina na ideia central que ele deseja e que está em permanente construção na sua arquitectura político-partidária: um povo anestesiado (inclusive, pelo sistema educativo), um partido a seus pés, Justiça controlada e Comunicação Social ao jeito de um "Madeira Livre" (órgão de comunicação social do PSD). 
Ele que desde sempre lutou por esse objectivo, um dia será cilindrado por aqueles que hoje persegue. É a História que nos ensina.
NOTA:
Acabo de ver, no online do DN, os incidentes desta tarde que ocorreram durante uma inauguração. Os candidatos do PND e autarcas eleitos foram pura e simplesmente impedidos de participar, não por forças políciais, mas por indivíduos de uma qualquer segurança privada. Em qualquer circunstância de forma completamente ilegal. Enquanto isto acontecia, um grupos de jovens com bandeiras da JSD dava vivas ao presidente do governo. Por onde anda o Presidente da República?   
Ilustração: Google Imagens.

PLANO B... MAS QUAL PLANO B? E QUAL ERA O PLANO A?


A situação a que o governo chegou conduz a que se "taparem um buraco" logo terão de destapar outro. É caso para perguntar, afinal, qual era o Plano A? Não pagar? Então será igual ao Plano B. B de Bancarrota.

Duas notas:
1ª Cofre Vazio.
Assuma, Senhor Secretário do Plano e Finanças, que a sua secretaria, metaforicamente, em pino, não deita um cêntimo. Assuma que a Região está FALIDA! Não há dinheiro, para a saúde, para as escolas, para pagar aos fornecedores, para realizar seja o que for. Assuma a falência e deixe-se de colocar "paninhos quentes" numa situação que é insuportável.
Já ninguém acredita nas palavras ditas, ou melhor, só os distraídos e pouco esclarecidos conseguem engolir essa história do "Plano B". Mais. A situação a que o governo chegou, conduz a que se "taparem um buraco" logo terão de destapar outro. É caso para perguntar, afinal, qual era o Plano A? Não pagar? Então será igual ao Plano B. B de bancarrota.
Enquanto isto acontece vejo o presidente do governo a visitar 143 mil m2 de espaços verdes e a quatro meses de eleições regionais entretido em mexidas na estrutura intermédia do governo, como se isso resolvesse alguma coisa. Como se nada de importante estivesse a acontecer na Região. A quem está o povo entregue!
2ª Ortopedia.
O Secretário dos Assuntos Sociais e Saúde andou, durante largo tempo, a bater forte e feio no anterior Bastonário da Ordem dos Médicos. Que o Dr. Pedro Nunes era contra a Madeira, era prepotente, mentiroso, enfim, o governo colocou-o mais raso que um chinelo. Depois, veio a nota de grande regozijo pela eleição do novo Bastonário, o Doutor José Manuel Silva. Ouviu-se que agora, sim, tudo será resolvido, a paz no serviço de ortopedia regressará e as idoneidades (formação de médicos) não serão colocadas em causa. Ontem, o Bastonário entornou o caldo, digamos que obrigou o Secretário a remar para terra. Colocou em causa tudo, ao ponto de ter abordado uma questão sensível: a eliminação administrativa das listas de espera. Ao ponto a que isto chegou!
Conclusão, este é outro membro do governo à procura de um plano B, já que o Presidente do Governo, em trinta e tal anos, percorreu todas as letras do abecedário e não tem solução alguma. Ele é o problema da Madeira.
Ilustração: Google Imagens.

EUROPA GOVERNADA POR POLÍTICOS MEDÍOCRES


"os mercados especulativos não vão desistir de ganhar dinheiro. Outros Estados vão ser igualmente atacados. A Bélgica, a Espanha, a Itália e talvez mesmo a França, poderão ser as próximas vítimas, o que obrigará a União a mudar de política, quer os seus líderes queiram ou não".

Ontem, pela televisão, acompanhei excertos de uma intervenção do Dr. Mário Soares. Excelente. Caracterizou a Europa, hoje governada por medíocres, meteu Berlusconi e Sarkozy nesse saco e, quanto a Merkel, disse, cuidado com a tentativa de germanização da Europa. Gostei. Aliás, tinha lido, ao princípio da tarde, um seu artigo no DN-Lisboa a que atribuiu o título de "O desvario europeu". Aqui deixo o primeiro parágrafo: "A União Europeia vai mal, sem rumo e sem valores. Tenho insistido, nestes modestos artigos, que a União Europeia não vai poder aguentar, por muito mais tempo, a política neoliberal que tem prosseguido, em especial desde que a crise nos afecta. Porquê? Porque ao contrário da América do Norte, tem persistido em não ver a realidade e em não querer mudar  de paradigma: o modelo económico de desenvolvimento. Os mercados especulativos continuam a dominar a política dos Estados membros da União, por enquanto apenas os considerados mais fracos, e a sobrepor-se a todos os outros valores: às conquistas sociais, às políticas de bem-estar, ao pleno emprego - ideal (esquecido) dos anos cinquenta - aos próprios valores éticos" (...) "os mercados especulativos não vão desistir de ganhar dinheiro. Outros Estados vão ser igualmente atacados. A Bélgica, a Espanha, a Itália e talvez mesmo a França, poderão ser as próximas vítimas, o que obrigará a União a mudar de política, quer os seus líderes queiram ou não".
Ora, é exactamente este o centro do problema. A Europa está a ser governada por políticos medíocres. Falta nesta Europa políticos de mão-cheia, gente com princípios e com valores, gente com sensibilidade social e que não esteja rendida aos interesses de umas centenas de famílias que determinam desde o que comer até em quem votar. Esta Europa desmembra-se dia-a-dia, o Euro está em causa, porque os Estados não conseguem suportar esta cegueira ultraliberal, desde há muito silenciosamente alimentada por uma direita paciente, meticulosa e que, inclusive, sabe, pela sua experiência histórica, colocar os trabalhadores e o povo em geral a aplaudir modelos sem se darem conta que, tarde ou cedo, passam à situação de vítimas. E veja-se esta onda cega que varre a Europa, onde 24 em 27 países são dominados pela direita, com Portugal e Espanha por um fio. Desespero das pessoas? Não. Condução científica dos povos, isso sim. Tenhamos em atenção a actividade secreta do Clube de Bilderberg (pode ler-se aqui um texto que publiquei há já algum tempo) que,  este ano, reunirá, entre 9 e 12 de Junho na cidade de St. Moritz, na Suiça. No essencial, eles determinam tudo, congeminam tudo, colocam aqui e ali quem mais jeito dá num determinado momento. Os que se sentam nos vários poderes europeus constituem apenas peões de outros poderes.
Mas o que me parece mais espantoso é que uma significativa parte da população portuguesa, muito especialmente, pessoas que deveriam ter uma consistente leitura do Mundo, os que divulgam, os comentam e os que fazem opinião, se mostrem incapazes de ver o outro lado das "coisas", ver o que se esconde por detrás das palavras pretensamente imparciais, a quem servem os interlocutores das mensagens políticas, no fundo, capazes de cruzar a informação disponível.
De política e de engrenagens europeias pouco sei. Faço o possível por ler e compreender o que me chega por vários canais. Por isso, quando leio figuras de conhecimento tão profundo e sustentável, sinto o lamento de as ver, aos poucos, desaparecem da política activa e até do tablado da vida num momento que tanta falta fazem os políticos de pensamento e de cultura.
Ainda ontem, este é um mero exemplo, ouvi na RTP1, o Director do DN Lisboa, João Marcelino, a comentar a última sondagem que atribui 36% aos dois maiores partidos, nesta corrida legislativa de 2011. Já não bastava o sectarismo mais extremo de Maria João Avilez que, à força, quer que o PSD vença as eleições, pois também aquele, elabora raciocínios elementares, próprios de mesa de café e nunca de pessoas que deveriam trazer outra leitura do processo, mais profunda, mais consistente, melhor elaborada e sobretudo não denunciando quais as suas preferências. Mas são aqueles os líderes da Europa e são estes os comentadores que temos. Como me sugere um amigo... muda para a Odisseia, os bichinhos são melhores! 
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terça-feira, 24 de maio de 2011

E SE ELE OLHASSE PARA OS TELHADOS DE VIDRO?


Estamos em presença, como diz o povo, de um homem (político) que "mente quantos dentes tem na boca", não assume os seus erros de governação, esconde e deturpa a realidade, atira para longe os problemas que lhe compete resolver, ignora o desemprego, não diz uma palavra sobre o estado da economia regional, mas tem a lata de falar do País quando aqui tem  um exemplo que o deveria manter caladinho.

É só garganta!
Quase todos os dias o presidente do governo regional da Madeira levanta a voz contra o Continente. Contra o governo da República, melhor dizendo. Tenho presente todas as posições que assumiu contra a ajuda financeira a Portugal, no pressuposto que a governação do País está sob "tutela estrangeira" (o artigo de opinião publicado hoje no JM é a prova do exercício da mentira ao serviço do poder). Mas este mesmo senhor que fala como se as pessoas tivessem memória curta, já teve de assinar, com a República, por duas vezes, em 1986 e 1989, dois instrumentos orientadores em função do desastre das contas públicas regionais: o "Programa de Reequilíbrio Financeiro" e o "Programa de Recuperação Financeira da Região Autónoma da Madeira". Assinou-os quando Cavaco Silva era Primeiro-Ministro e Miguel Cadilhe o seu Ministro das Finanças. E porquê? Repito, porque as contas públicas regionais encontravam-se em estado lastimável. Quando o Engº António Guterres ganhou as eleições de 1995, passado algum tempo, lá veio o socorro de 110 milhões de contos para abafar o descontrolo que por aí andava. Para além de ter sido "obrigado" a comprometer-se com exigentes regras, não esqueço, por exemplo, que mesmo cá dentro, pelas loucuras operacionalizadas através das autarquias, com o seu aval, claro, o ainda presidente do governo regional, impôs um "Protocolo de Reequilíbrio Financeiro" que bloqueou a maioria das autarquias da Região. Ninguém se esquece desse tempo. E não me esqueço da visita do Professor Cavaco a S. Vicente, uma das autarquias endividadas, onde disse ao presidente da Câmara que "deveria estar preso". Se não foi esta a expressão o sentido foi aquele. 
Mas é este mesmo político que preside há 33 anos ao governo da Madeira e que tem, a este nível, um passado negro no controlo da despesa pública, que se dá ao desplante de falar do governo da República. Fala mesmo sabendo dos seus enormes telhados de vidro. E mais ainda, quando, hoje, a situação na Madeira é tão grave que ele próprio denuncia não saber como resolvê-la. São "paletes" de facturas por pagar, compromissos assumidos e não pagos que estão a colocar pequenas e grandes empresas completamente descapitalizadas e obrigadas a despedirem colaboradores. A edição de hoje do DN (página 20) refere que o Millennium BCP denunciou o protocolo com o IASaúde dado os incumprimentos do governo regional. Escreve o DN: "a instituição financeira decidiu que não vai adiantar nem mais um tostão para pagar facturas às empresas privadas (...)".
Estou em presença, como diz o povo, de um homem (político) que "mente quantos dentes tem na boca", não assume os seus erros de governação, esconde e deturpa a realidade, atira para longe os problemas que lhe compete resolver, ignora o desemprego, não diz uma palavra sobre o estado da economia regional, mas tem a lata de falar do País quando aqui tem um exemplo que o deveria manter caladinho.
O problema é que vale tudo nesta terra, onde prolifera a memória curta de muito boa gente.
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segunda-feira, 23 de maio de 2011

EXACTAMENTE, NÃO HÁ QUE CONFUNDIR


Não se pode confundir o problema do Continente com o da Madeira, muito menos com o dos Açores. Bastará olhar para os números estatísticos do desemprego, os que reflectem o estado da economia, da educação, da saúde, dos prazos de pagamento às empresas, os números da pobreza e fazer a respectiva proporção em função da população que somos relativamente à população do País. E não falo sequer do estado da Democracia, pois essa é uma outra história muito complexa.

Ontem, no Caniço, teve lugar a "Festa da Cebola". Só falta a do "nabo"! Mas consta que o inefável e sedento de protagonismo, o Secretário dos Recursos Naturais, para lá caminha. O discurso do presidente do governo, talvez pela presença da cebola, foi de rir até às lágrimas. Destaco duas passagens: "não me confundam com a administração do Continente"; "há muito boa gente e capaz, jovem, como há malandros até aos 100 anos". A compaginação destas duas frases acabam por conduzir a uma interessante leitura.
Começo pela segunda. Se há, por aí, jovens capazes, que razões o levam a se perpetuar no poder? Será pela existência de muita malandragem menos jovem? É uma questão interessante. E na existência de muita malandragem menos jovem, o que em política pode traduzir-se por muitas situações pouco transparentes, essa situação obrigará a que ele, com o carisma absolutista que alardeia, sinta a necessidade, por razões de poder, de se manter ao leme, apesar da sua saúde aconselhar menos empenhamento? Tudo se resumirá a uma questão de "veneno", "inveja e má língua" perante "pessoas que têm sucesso na vida", como sublinhou, ou existirão muitas outras razões de fundo que o levam a tomar, diariamente, esse "veneno" do poder a qualquer preço? Presumo saber as respostas, mas ficarão para outro momento.
No meio disto, pediu, de pulmão aberto, que não o confundam com a administração do Continente. Aí, confesso, estou em total acordo. Eu que tantas vezes discordo, desta curvo-me perante tamanha e indiscutível verdade. Não se pode confundir o problema do Continente com o da Madeira, muito menos com o dos Açores. Bastará olhar para os números estatísticos do desemprego, os que reflectem o estado da economia, da educação, da saúde, dos prazos de pagamento às empresas, os números da pobreza e fazer a respectiva proporção em função da população que somos relativamente à população do País. E não falo sequer do estado da Democracia, pois essa é uma outra história muito complexa. Portanto, não há que confundir o que se passa no Continente com quem levou a Madeira, com 260 mil habitantes, a um estado de falência total. Ironia? A "verdade" que cada um interpretará como quiser. E digo mais, tem razão o Dr. Jardim, quando assume que não precisamos "de mais conversa" pois "o que a gente precisa é de trabalho e vontade de trabalhar". Nem mais! O Senhor que está há 33 anos consecutivos no poder, finalmente, descobriu que os madeirenses não precisam de paleio, mas de empresas que possam gerar trabalho. Exactamente, não há que confundir, pois é "uma canalhice e é um covardia repetir asneiras (...)", como sublinhou no seu discurso. E mais, ainda, estou de acordo com aquela tirada aos "que recebem subsídios para não trabalhar". Basta passar os olhos pelo associativismo, pelos milhões desperdiçados que tanta falta fazem em tantos sectores e áreas prioritárias. Os milhões atribuídos para a propaganda do "regime" na Madeira, etc. etc..
Por aqui fico, esta cebola é muito agressiva e já tenho os olhos cheios de lágrimas por um Povo que não consegue dizer BASTA!
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 22 de maio de 2011

FIM DE TARDE...

CHANTAGEM, DISSE ELE!


A lata como se engana 1000 pessoas no decorrer de um jantar, quando a verdade é que a Madeira ficou a ganhar com a Lei de Meios. Tanto assim é que foi o próprio presidente do governo que classificou o trabalho de "excelente" e teve o Primeiro-Ministro, na Madeira, a acompanhar a "Festa da Flor", momento esse de afirmação da responsabilidade e da solidariedade nacional para com o povo da Madeira.


"Até com a desgraça, até com as aluviões, até com as mortes e com os prejuízos do povo madeirense o Partido Socialista fez chantagem" - disse, ontem, o ainda presidente do governo regional, relativamente à Lei de Meios vs Lei das Finanças Regionais.
"Puseram-me a faca ao peito (...) tinha de ceder", adiantou, como se a Lei de Meios tivesse tido como pressuposto, ou dizes sim ou levas sopa! A lata com disse isto, quando tudo foi transparente, tudo foi negociado entre as duas partes, concretamente, entre o Dr. João Cunha e Silva e o Secretário de Estado Dr. Fernando Medina, num processo sempre acompanhado pelo Primeiro-Ministro. A lata como se engana 1000 pessoas no decorrer de um jantar, quando a verdade é que a Madeira ficou a ganhar. Tanto assim é que foi o próprio presidente do governo que classificou o trabalho de "excelente" e teve o Primeiro-Ministro, na Madeira, a acompanhar a "Festa da Flor", momento esse de afirmação da responsabilidade e da solidariedade nacional para com o povo da Madeira.
Mas o que ontem disse, hoje, não tem valor ou sentido. A política para o Dr. Jardim, é feita de momentos: de manhã, um circunstancial elogio; à tarde, manda-o para o inferno e à noite pensa na próxima malandrice política. Conhecedor da situação, talvez por isso, Passos Coelho não passará pela Madeira nesta campanha e já o avisou "que ninguém está acima da lei". Num quadro destes, questiono, de que espera o povo da Madeira? Que o homem que não quer sair do poder continue a conduzir a Região para uma situação de total insolvabilidade? Já não bastam os indicadores do desemprego (13,9%), da pobreza, da incapacidade dos pequenos e médios empresários? Já não basta a monumental dívida pública? De que estarão à espera para colocar na oposição um governo que já não governa e apenas luta para manter o poder?   
As eleições de 05 de Junho são importantes. Por três motivos: primeiro, porque há que refrescar o Parlamento Nacional com figuras da Madeira que a defendam, distantes da habitual guerra de palavras que não adiantam nem atrasam. Eu diria que apenas desprestigiam; em segundo lugar, porque não me parece defensável lá manter figuras que se arrastam naquelas cadeiras há mais de vinte anos; em terceiro lugar, porque estas eleições podem constituir o alento para, em Outubro, verificar-se o esperado derrube desta maioria absoluta. Seria importante para todos os madeirenses e porto-santenses. A ver vamos.
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 21 de maio de 2011

PORQUE HOJE É SÁBADO...

ENTRE A DEFESA DO ESTADO SOCIAL E O ULTRALIBERALISMO


Considero, pois, pouco relevante falar-se de vencedores do debate. Prefiro a abordagem propositiva e o que se esconde por detrás das propostas. Penso ser mais importante do que a transformação ou redução do debate a um resultado de uma partida de futebol. Se foi 4-0 ou 3-1 pouco me interessa. Importante foi perceber que paradigmas foram desenvolvidos e isso, do meu ponto de vista, ficou claro. 


Assisti ao debate entre os candidatos Engº José Sócrates e o Dr. Pedro Passos Coelho. Ficou claríssimo, pelo menos na minha leitura, dois políticos com dois projectos distintos para Portugal. O socialista José Sócrates com uma preocupação em manter o Estado Social, o outro, o social-democrata Pedro Passos Coelho, muito distante daquele conceito. Isso ficou bem marcado quando José Sócrates, factualmente, confrontou-o com as suas posições escritas, em livro, em declarações e em programa eleitoral, e assisti a uma preocupação de Passos Coelho fugir a esses temas. A questão da Segurança Social, da protecção dos trabalhadores, dos sistemas de saúde e educação, o candidato do PSD não teve capacidade para explicar e fundamentar fosse o que fosse. Marcante, ainda, a posição de José Sócrates, quando, face a um relatório, assinado por Passos Coelho, enquanto administrador de uma empresa (2010) se referia à conjuntura adversa, no plano nacional, consequência da crise internacional. Uma vez mais, aqui, o social-democrata, viu-se incomodado para justificar as suas posições de hoje relativamente às de ontem, no que concerne ao quadro geral da economia e das finanças. Estes foram, do meu ponto de vista, os momentos mais definidores do debate: por um lado, o porquê da crise e a posição que Passos Coelho assumia antes de ser candidato; por outro, a grande diferença na postura política entre quem defende o Estado Social e quem se apresenta liberal ou ultraliberal nesse campo.
Depois, vieram os comentadores (refiro-me à RTP 1). Eu que acompanhei o debate na presença de outras pessoas (que não são da área socialista), demos com "analistas", das duas uma, ou mal preparados ou manifestamente sectários e, diria mais, partidários. Neste aspecto, destaco, pela negativa, Maria João Avilez que me pareceu estar a comentar um outro qualquer debate. Aquele, certamente, não. Mas isso, até consigo dar de barato, porque, é evidente que o jornalista, em todos os momentos, transporta não só os seus conhecimentos, mas também as suas crenças, atitudes, presunções, preconceitos, emoções e experiências. E, quando comenta, todos esses aspectos acabam por  serem verbalizados. O que para mim é grave é não assistir a um esforço mínimo em compreender o que se passou no Mundo nos últimos anos, isto é, quais os factores da crise, e equacionar, políticamente, as grandes diferenças entre os dois paradigmas de governação: um, apesar da pressão internacional (neste momento, dos 27 países da UE, 24 são de direita) que tenta manter uma luta na defesa dos valores sociais; outro, que se entrega às lógicas governativas marcadamente liberais. E o problema reside exactamente aí, ou nos defendemos, ou nos entregamos a essa avassaladora onda daqueles que, em seu proveito, geraram a crise e são portadores de uma vontade de aniquilamento de sociedades mais justas e mais fraternas. Lógico, numa análise política, social, económica, financeira e até cultural, seria assumir que José Sócrates não foi tão longe quanto seria desejável, apesar de se encontrar "amarrado" por uma dívida externa que terá de ser paga à custa de grandes constrangimentos do povo português. A contrária julgo que não, pois esse caminho significa acentuar as diferenças, encurralar dos pobres, favorecer o desemprego e proporcionar o crescimento de uns à custa dos demais. É isto que está aos olhos de todos, mas que alguns não conseguem ou não querem ver. 
Considero, pois, pouco relevante falar-se de vencedores do debate. Prefiro a abordagem propositiva e o que se esconde por detrás das propostas. Penso ser mais importante do que a transformação ou redução do debate a um resultado de uma partida de futebol. Se foi 4-0 ou 3-1 pouco me interessa. Importante foi perceber que paradigmas foram desenvolvidos e isso, do meu ponto de vista, ficou claro.