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sábado, 30 de junho de 2012

RTP: EM DEFESA DA QUALIDADE


E não é porque a RTP-Madeira não disponha de profissionais de excelência. Se a RTP-Madeira, embora numa área distinta, consegue produzir e apresentar um produto, como é o caso do programa "Pedras que Falam", exímio, de uma inquestionável qualidade, a informação diária e a não diária não pode baixar ao nível quase zero. Exige-se uma irrepreensível qualidade, embora reconheça que nem sempre os alinhamentos sejam bem conseguidos, uma vez que dependem de múltiplas variáveis. O que não pode acontecer, ou melhor, não deve acontecer, é o TJ andar a reboque da restante comunicação social escrita e falada, apenas cumprir uma agenda, apresentar peças políticas ao segundo, sem enquadramento e cortadas de faca afiada, declarações políticas a maioria das vezes sem contraponto, entrevistas de estúdio superficiais, eu diria, mal preparadas, não trazer o novo por iniciativa própria e produzir peças face às quais o espectador fica sem perceber o enredo e a finalidade das mesmas.


O telejornal da RTP-Madeira é desesperante. Tenho evitado escrever sobre esta matéria, mas aquilo atingiu um ponto que impõe uma séria reflexão. E se escrevo é pela simples razão de, enquanto espectador, quase religiosamente, àquela hora, sintonizar o canal regional, para acompanhar, em trinta minutos, o mais importante do dia, independentemente dos sectores, áreas e domínios que o alinhamento determine e que aos jornalistas diz respeito. Se os jornais e a rádio são importantes na sua nobre missão de informar, a televisão, porque os textos compaginam-se com a força da imagem, parece-me óbvio que constitui um espaço que não pode ser arquitectado às três pancadas. É demasiado importante para que o verbo "encher" seja conjugado.
E não é porque a RTP-Madeira não disponha de profissionais de excelência. Se a RTP-Madeira, embora numa área distinta, consegue produzir e apresentar um produto, como é o caso do programa "Pedras que Falam", exímio, de uma inquestionável qualidade, a informação diária e a não diária não pode baixar ao nível quase zero. Exige-se uma irrepreensível qualidade, embora reconheça que nem sempre os alinhamentos sejam bem conseguidos, uma vez que dependem de múltiplas variáveis. O que não pode acontecer, ou melhor, não deve acontecer, é o TJ andar a reboque da restante comunicação social escrita e falada, apenas cumprir uma agenda, apresentar peças políticas ao segundo, sem enquadramento e cortadas de faca afiada, declarações políticas a maioria das vezes sem contraponto, entrevistas de estúdio superficiais, eu diria, mal preparadas, não trazer o novo por iniciativa própria e produzir peças face às quais o espectador fica sem perceber o enredo e finalidade das mesmas.
Relativamente a este último aspecto, apenas como exemplo, nos últimos dias, a páginas tantas do TJ, a propósito, julgo eu, da Autonomia, têm surgido uns escassos minutos, de concelho em concelho, onde é dada voz às pessoas, a maioria de idade avançada, sobre o que era a Madeira e o que ela é hoje. De início, com imagens a preto e branco, seguem-se depoimentos e, finalmente, o colorido da apregoada "Madeira Nova". Ora, sendo este um assunto muito sério e profundamente político, económico, social e cultural, não me parece razoável que seja equacionado em brevíssimos minutos. Não vou aqui elencar as múltiplas variáveis que estão em causa, mas uma coisa é certa, não é aceitável, sob o risco de ser interpretado como um branqueamento à política vigente, a divulgação de peças desenquadradas do rigor e independência que se exige.
Aliás, basta partir do princípio que só se pode comparar situações comparáveis. Se não for realizado um esforço nesse sentido, pode-se cair no extremo de comparar a Madeira de hoje com a do Gonçalves Zarco. Há leviandade, naquele contexto, comparar quase meio século de ditadura com o que se seguiu à Revolução de Abril de 1974, passando ao lado da integração europeia, dos fluxos financeiros, da Constituição da República, da concomitante Autonomia das regiões insulares e dos orçamentos de Estado. Todo o país cresceu e as regiões também. O problema, na minha perspectiva, é perceber se esta Autonomia foi ou não bem aproveitada no sentido do bem-estar da população. Se apenas houve crescimento ou se, simultaneamente, assistiu-se a um desenvolvimento sustentável. Se a Região, hoje, tal como ontem, apresenta-se como um fruto "bonito" por fora, mas podre por dentro. Se a degradação social e cultural de ontem tem ou não algum paralelo com os 58.000 sem instrução de hoje (INE), se as cores vivas da pobreza de hoje (que o digam as instituições de solidariedade social) conjugam-se ou não com a pobreza a preto e branco de ontem. E por aí fora...
Ora, mais valia que a RTP-M, após o TJ, com rigor, clareza, profundidade, de forma honesta e isenta, produzisse um espaço de análise à Autonomia. Fá-lo-á, amanhã, segundo tem sido divulgado, durante várias horas. Pois bem, só depois poderei ter uma opinião. Regressando ao princípio, aquilo que tenho seguido no TJ conduz o espectador ao desespero. Melhor seria não produzir peças que deixam um rasto de clara insatisfação e perplexidade, o que me leva a dizer que, face à importância de um serviço público de televisão, toda a informação diária e não diária deva ser repensada. A RTP-Madeira tem de primar pela qualidade. Nego-me a aceitá-la como uma televisão de bairro transmitindo em circuito fechado.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

PRESSÕES


Não é possível, do ponto de vista político, passar uma esponja sobre o passado, mostrando-se, agora, como a desejada primavera, a alternativa que nasce de dentro do mesmo livrinho de base ideológica. Tem algo de semelhante àquelas músicas resgatadas de outros cantores dando a sua própria interpretação. A melodia é a mesma, está lá, reconhecemos facilmente, não é original, os músicos podem até ser outros, todavia, não traz nada de novo. Daí que, qualquer alternativa política na Região não deva germinar entre os que nunca se demarcaram, pelo contrário, foram apoiantes inequívocos da situação a que chegámos. Transporta um sinal claro de oportunismo, de gato por lebre, que deve ser politicamente combatido pela oposição. Do meu ponto de vista, com o total respeito pelas pessoas, no plano político, não faz qualquer sentido que se substitua A por B e, com a mais que provável bengalinha de C, a Região continue a tocar a música de sempre embora com variações à guitarra, à viola e ao piano. O lugar do PSD-M, pela longevidade no poder, é, doravante, na oposição.


Não tem credibilidade política quem só agora vem com a história das pressões sobre as pessoas, no sentido delas assumirem os comportamentos esperados por quem governa. A ser verdade, e nada me diz que não seja, pois sempre foi assim, a situação é repelente. Só que, por maiores que sejam as tentativas de demarcação a este regime castrador da liberdade e de controlo sobre a sociedade, merece, também, uma adequada análise. Ora bem a ausência de uma vivência democrática não é de agora, tem muitos anos, inclusive, de subtil mas incisiva perseguição aos que tiveram o coração muito próximo da boca. Todos os que agora se apresentam como libertadores estiveram sentados lado a lado com a hierarquia dominante, comungaram dos mesmos princípios e valores, seguiram linha a linha a cartilha ensinada deste o tempo da juventude, portanto, não têm desculpas no extenso rol de processos que conduziram a este desastre social. Não têm legitimidade política para assumir a diferença, mesmo que para isso façam um esforço de branqueamento, através de um discurso próprio de pessoas civilizadas e de grande urbanidade. Não têm e ponto final. Onde estavam, com quem estavam e o que disseram quando, por exemplo, o Dr. Mário Soares falou de "défice democrático" na Região e tudo o que esse conceito significava? Que posições assumiram quando tantos, técnicos e não só, foram colocados na "prateleira" por falta de obediência ao poder, isto é, por terem opinião própria? E que credibilidade política podem ostentar, hoje, quando são visados pela falta de rigor no cumprimento dos instrumentos de planeamento, em clara consonância com as políticas do governo?
Ora, não é possível, do ponto de vista político, passar uma esponja sobre o passado, mostrando-se, agora, como a desejada primavera, a alternativa que nasce de dentro do mesmo livrinho de base ideológica. Tem algo de semelhante àquelas músicas resgatadas de outros cantores dando a sua própria interpretação. A melodia é a mesma, está lá, reconhecemos facilmente, não é original, os músicos podem até ser outros, todavia, não traz nada de novo. Daí que, qualquer alternativa política na Região não deva germinar entre os que nunca se demarcaram, pelo contrário, foram apoiantes inequívocos da situação a que chegámos. Transporta um sinal claro de oportunismo, de gato por lebre, que deve ser politicamente combatido pela oposição. Do meu ponto de vista, com o total respeito pelas pessoas, no plano político, não faz qualquer sentido que se substitua A por B e, com a mais que provável bengalinha de C, a Região continue a tocar a música de sempre embora com variações à guitarra, à viola e ao piano. O lugar do PSD-M, pela longevidade no poder, é, doravante, na oposição. Só por aí será possível refrescar a democracia, resgatar a Autonomia, libertar a sociedade, criar as condições para a inovação, a criatividade, a (re)negociação, o respeito de todos, a correcção dos processos, o corte com os interesses mesquinhos e partidários, a ruptura com os cordões umbilicais existentes com as figuras que, no plano económico-financeiro, serviram-se e pouco serviram a causa pública.
Neste contexto o actual líder do PSD-M tem de ser empurrado e espicaçado no sentido de ir às urnas em 2015 (se aguentar a presidência do governo até lá, o que continuo a duvidar!) e, aí, ser derrubado por expressa vontade popular. Neste pressuposto deve ser denunciada qualquer jogada no sentido de uma saída antecipada e de transferência de poder para outro político da sua confiança. Aliás, como aconteceu na Câmara do Funchal e que se aprestam para novamente fazer. Este quadro implica, obviamente, um combate político sem tréguas, uma conjugação de esforços de toda a oposição naquilo que é essencial, impedindo que o benefício da dúvida se instale no eleitorado. Este não é um momento para vacilar, pois que o protelamento das decisões políticas podem custar algumas legislaturas  de "mais do mesmo". Apenas uma opinião.
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

POLÍTICOS QUE NÃO GOVERNAM. PASSAM 80% DO TEMPO A MONTAR ESQUEMAS QUE CONDUZAM À LIDERANÇA.


É fácil governar com muito dinheiro na conta, mais complexo é governar com regras, de acordo com os instrumentos de planeamento, com orçamentos definidos e sempre limitados, quando se sabe que os recursos financeiros são sempre escassos. E entre o querer fazer e o poder fazer, desde o âmbito da família ao da governação, existe uma diferença que deve ser acautelada. Ora, quem nunca soube governar uma região de 265.000 habitantes, como pode ter o atrevimento de dizer-se capaz de governar dez milhões? Ao dizer que "a Madeira tem gente capaz de pôr o país a funcionar", certamente que não está a referir-se à oposição política regional, mas aos do seu partido, a ele próprio, ao seu governo! Que petulância!


"A Madeira tem muita gente capaz de pôr o país a funcionar", disse o presidente do governo regional da Madeira. Não sei se foi da voltinha dada na nova viatura dos bombeiros do aeroporto, a verdade é que a agulheta disparou em mais um espectáculo de palavras ao vento. Ora, quem conduziu a Madeira à falência é o mesmo que se apresenta com capacidade para "apagar o fogo que lavra no país" económico e financeiro. Quem colocou a Madeira numa situação de ruptura, de desemprego e pobreza, qualquer cidadão questiona-se, se o dito pode ter alguma "solução" para o país? Quando nunca o seu próprio partido o quis para liderá-lo, que legitimidade e competência evidencia no seu historial político no sentido de arrogar-se salvador da Pátria? E se essa competência existe, pergunta-se, porque não foi aplicada na Madeira com sucesso?
Tantas vezes tenho sublinhado que é fácil governar com muito dinheiro na conta, mais complexo é governar com regras, de acordo com os instrumentos de planeamento, com orçamentos definidos e sempre limitados, quando se sabe que os recursos financeiros são sempre escassos. E entre o querer fazer e o poder fazer, desde o âmbito da família ao da governação, existe uma diferença que deve ser acautelada. Ora, quem nunca soube governar uma região de 265.000 habitantes, como pode ter o atrevimento de dizer-se capaz de governar dez milhões? Ao dizer que "a Madeira tem gente capaz de pôr o país a funcionar", certamente que não está a referir-se à oposição política regional, mas aos do seu partido, a ele próprio, ao seu governo! Que petulância!
Depois, há aqui um aspecto que é extremamente preocupante. Julgo que é público e notório que neste governo e nestas autarquias da responsabilidade do PSD-M existe um défice de trabalho. Sobretudo ao nível dos responsáveis políticos. Não ao nível daqueles que auferem baixos salários. Hoje, a discussão já não se centra na coisa pública, mas, fundamentalmente, nas lutas partidárias internas. O PSD-M está desconjuntado, é sensível a existência de facções, e só o facto de Jardim dizer que Albuquerque é um político "em fim de carreira" testemunha que muita gente deve passar 80% do seu tempo a pensar como derrubar o adversário interno e como ser assunto diário de comunicação social. E é esta mesma gente que, durante alguns anos, falou dos outros partidos, particularmente do PS, que não se entendiam e que estavam sempre em desavença interna. Agora, completamente partidos, dizem, que é a democracia a funcionar, em outros tempos, agrediram os seus opositores com palavras e actos indecorosos.
O que mais me espanta, ou talvez não, é a existência de pessoas que continuam a dar para este peditório, comparecendo a jantares, do João e de outros, ao invés de assumirem uma verdadeira cultura de cidadania que implica ver a governação de forma distinta àquela paixão pelo Benfica, Sporting, Porto, Marítimo ou Nacional! 
Ilustração: DN/Google Imagens.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O POVO ESTÁ FARTO DA ALDRABICE POLÍTICA


Acredite o leitor que fiquei furioso quando ouvi do vice-presidente assumir que "(...) é preciso responder à frustração de tantos pais" e "à desilusão e desalento de tantos filhos", (...) ao "desemprego jovem", que mais do que ser um caso sério, é já uma realidade "grave" que "põe em causa os princípios mais elementares" e assume-se como "um golpe profundo na esperança (...)". Mas, afinal, quem é que teve a responsabilidade de desenhar o futuro desta região, planeá-la e de fazê-la crescer de forma sustentável? De outra maneira, de quem foi a responsabilidade das obras inúteis, das megalomanias que redudaram em prejuízos que terão de ser pagos por muitos anos? Quem dispôs das grandes fatias orçamentais para as falidas sociedades de desenvolvimento? E quem teve e tem a tutela do Instituto de Desenvolvimento Empresarial, do Centro de Empresas e Inovação, da Administração Pública e Local, dos Assuntos Europeus e da Cooperação Externa, da Direcção Regional de Comércio e Indústria, do Centro de Formalidades das Empresas, da Madeira Parques Empresariais, da Electricidade da Madeira e muito mais? Foi o pobre cidadão desta terra que teve essas responsabilidades ou ser Vice-Presidente de um governo é qualquer coisa de insignificante? Que impudência esta a de assumir que irá "falar bem alto para que nos oiçam longe"...


Dr. João Cunha e Silva com o seu "chefe".
Ambos cúmplices do desastre político, económico,
social e cultural da Madeira.
Segui, com particular atenção, a intervenção do vice-presidente do governo regional da Madeira, Dr. João Cunha e Silva, por ocasião do Dia do Concelho de Santa Cruz. Sinceramente, já não sei e, certamente, muitos já não saberão o que dizer perante tanto descaramento. Os culpados armam-se em vítimas, falam como se nada tivessem a ver com o que se está a passar, são governantes para efeitos de poder, mas não o são para efeitos de responsabilidades. Por exclusão de partes, cantam e cantam hossanas às suas próprias figuras e apontam o dedo aos outros. Isto é, são governantes e não são. São governantes para os actos oficiais, para subirem ao púlpito, para as mordomias, para o "carro preto", para as palmas, para sentirem a plebe curvada a seus pés, aos pés dos patrícios; mas não são governantes quando toca à responsabilidade, ao projecto político, económico, social e cultural. Aí, calma, o problema é sempre dos outros. Acredite o leitor que fiquei furioso quando ouvi o vice-presidente assumir que "(...) é preciso responder à frustração de tantos pais" e "à desilusão e desalento de tantos filhos", (...) ao "desemprego jovem", que mais do que ser um caso sério, é já uma realidade "grave" que "põe em causa os princípios mais elementares" enquanto "um golpe profundo na esperança (...)". Mas, afinal, quem é que teve a responsabilidade de desenhar o futuro desta região, planeá-la e de fazê-la crescer de forma sustentável? De outra maneira, de quem foi a responsabilidade das obras inúteis, das megalomanias que redundaram em prejuízos que terão de ser pagos, com juros, durante muitos anos? Quem dispôs das grandes fatias orçamentais para as falidas sociedades de desenvolvimento? E quem teve e tem a tutela do Instituto de Desenvolvimento Empresarial, do Centro de Empresas e Inovação, da Administração Pública e Local, dos Assuntos Europeus e da Cooperação Externa, da Direcção Regional de Comércio e Indústria, do Centro de Formalidades das Empresas, da Madeira Parques Empresariais, da Electricidade da Madeira e muito mais? Não é o Vice que tutela tudo isto? Foi o pobre cidadão desta terra que teve essas responsabilidades ou ser vice-presidente de um governo é qualquer coisa de insignificante? Que impudência esta a de assumir que irá "falar bem alto para que nos oiçam longe", porque o povo madeirense "(...) continua ainda sem poder exorcizar os fantasmas que o persegue, à custa de uma segurança prometida, exigida e, certamente, devida" (...) e, agora, tal como Pilatos, lava as mãos das responsabilidades que lhe competem? Mais, ainda, quando e em que circunstâncias o Dr. João Cunha e Silva, em discurso directo, politicamente, discordou do caminho megalómano seguido pelo Dr. Jardim, da sua política completamente desajustada da realidade, do fazer agora e pagar depois? Então o vice-presidente não foi cúmplice das decisões que colocaram em causa as prioridades, não foi conivente, no seio de uma equipa de governo, pela loucura inauguracionista sem uma base racional de sustentabilidade? Então a Lei das Finanças Regionais é que é a culpada do desvario? Foi por aí que tiveram de esconderam a verdade das contas públicas e que justificou a colossal mentira política em sede de Assembleia Legislativa? É Zona Franca que não permite o equilíbrio das receitas? E os Açores que não têm qualquer zona franca e conseguem, com nove ilhas, dispersas por 600 quilómetros, manter o equilíbrio nas contas, o crescimento e o desenvolvimento?
Já não há pachorra para ouvir discursos como o de Santa Cruz. O problema é que não é só ele, são todos, repito, TODOS os que fazem parte deste governo da ruína, das autarquias da ruína que conduziram a este desabamento social. Se existem momentos onde se pode aquilatar a força e capacidade de um governo é, exactamente, nos momentos de crise. Nos períodos de dinheiro a rodos, tudo se torna fácil, porque quando ele existe empreiteiros não faltam. O problema é que este governo leva já sete meses de legislatura e, pergunto, alguém conhecerá uma medida, uma só, que garanta a saída do sufoco económico e financeiro? Aquilo que é do conhecimento de todos e que tem marcado este governo tem sido a dupla e tripla austeridade, consubstanciada no aumento de impostos e na retirada de direitos conquistados. O que todos conhecem, é muito blá, blá, como o do Dia do Concelho de Santa Cruz, autarquia esta falida até ao tutano! São do Dr. Cunha e Silva estas palavras, após uma vitória do PSD: "(...) há pessoas que não se deixam humilhar, não se deixam vergar, não gostam de ser enxovalhadas e essas correram às urnas para nos dar o apoio e fazer vencer a Madeira". Chama a tudo isto uma vitória? Quem é que está a ser enxovalhado? E quem os vergou a isso? E quem humilha quem? Por favor, vão embora e deixem que outros sirvam a Região com a competência política que falta.
Ilustração: Google Imagens

terça-feira, 26 de junho de 2012

O PLANO DE AJUSTAMENTO FINANCEIRO DA MADEIRA CONDUZIRÁ AO AUMENTO DA POBREZA

CONTRADIÇÕES


Curiosamente, este mesmo povo, espoliado dos seus direitos, espezinhado e triturado, com penosas dívidas às costas, públicas e particulares, estando a passar por momentos de profundíssima angústia, desde empresários aos milhares de desempregados, desde os pobres persistentes aos novos pobres, de médicos a enfermeiros, de professores a arquitectos, de engenheiros a advogados, enfim, todos se subjugam a uma paz podre, geradora de náusea, mostrando-se incapazes de um colectivo grito público, de erguer uma bandeira sinónima de que aqui há gente a passar mal e que os políticos não podem utilizar o povo ao pontapé como se de uma bola se tratasse.

Oxalá a equipa portuguesa de futebol atinja a final. E como cereja em cima do bolo que o Engº João Rodrigues, na sua sexta presença olímpica, consiga, na regata de ouro, o resultado que lhe falta na sua brilhante carreira. Ficaria feliz que tal acontecesse, por um lado, pelo portuguesismo da nossa Região, por outro, pela afirmação de dois madeirenses ao mais alto nível no diálogo competitivo internacional. Pese embora o facto de, nem um nem outro, serem consequência de uma política desportiva regional sustentável. Mas essa é outra história.
O que hoje aqui me traz designa-se por contradições. Olho para o parque de Santa Catarina e vejo-o cheio, vibrante, com milhares entusiasmados em redor das cores nacionais. Um movimento espantoso de paixão e orgulho nacional. Manifestações que derrubam a tese da independência, agitada por alguns, no quadro da chantagem política. Curiosamente, este mesmo povo, espoliado dos seus direitos, espezinhado e triturado, com penosas dívidas às costas, públicas e particulares, estando a passar por momentos de profundíssima angústia, desde empresários aos milhares de desempregados, desde os pobres persistentes aos novos pobres, de médicos a enfermeiros, de professores a arquitectos, de engenheiros a advogados, enfim, todos se subjugam a uma paz podre, geradora de náusea, mostrando-se incapazes de um colectivo grito público, de erguer uma bandeira sinónima de que aqui há gente a passar mal e que os políticos não podem utilizar o povo ao pontapé como se de uma bola se tratasse.
Por medo? Por ausência de uma cultura de cidadania activa? Por falta de educação política? Por ausência de uma escola libertadora? Porque a Igreja incentiva a carregar a Cruz? Talvez, um pouco por tudo isto. A infeliz constatação é que o efémero resultado desportivo, seja ele qual for, se sobrepõe aos direitos subtraídos, às agruras e às vergonhosas maldades de um poder que deveria ser colocado em causa. Contradições!
Ilustração: Google Imagens

segunda-feira, 25 de junho de 2012

E SE A SECRETARIA PAGASSE O QUE DEVE AOS PROFESSORES!


À suspensão dos subsídios de férias e de Natal, à suspensão do subsídio de insularidade, ao agravamento do IVA, etc. etc., ainda por cima, aquilo que devem não pagam. Politicamente e não só, esta é uma atitude miserável, com todas as letras. E o mais grave disto é que aparecem aí com palavrinhas mansas, falando dos professores com transbordante enlevo, mostrando-se ao lado deles, quando a prática demonstra que sempre estiveram e continuam contra eles. Tomemos consciência, entre outros aspectos, do Estatuto da Carreira Docente, do modelo de Avaliação de Desempenho, mais recentemente, o despedimento que acontecerá entre centenas de professores, o encerramento de estabelecimentos de educação e ensino, enfim, este longo historial demonstra que esta secretaria anda ao Deus dará!
 

Há situações absolutamente intoleráveis. Os funcionários públicos em geral e os professores em particular (corpo especial da Administração Pública) estiveram 28 meses com todo o seu tempo de serviço congelado para efeitos de remunerações e progressão na carreira. Entretanto, esse período foi desbloqueado, o que permitiu a todos aqueles com tempo de serviço e processos de avaliação concluídos, estarem em condições de progredir na carreira. Só que, progrediram mas continuam sem receber. Encontram-se nestas condições algumas centenas de professores a aguardar que o governo regional pague o que deve, factura esta que, globalmente, já atinge seis milhões de euros. E todos os meses, como é óbvio, a situação agrava-se.
Isto é, como se não bastasse o congelamento das carreiras que, no caso dos professores, casos houve de muitos retidos por escassos meses, ainda por cima confrontam-se com uma secretaria regional caloteira. São seis milhões sempre a crescer, o que demonstra que este governo não tem um mínimo de consideração pelos docentes. Se um professor ou qualquer outra pessoa ou empresa pagar o IMI, o IRS ou qualquer outro imposto fora de prazo tem logo uma penalização; estes senhores podem dever quantias exorbitantes e nada lhes acontece. Oh senhor secretário e se se deixasse de balelas e mandasse pagar aos professores aquilo que o governo deve?
Lembro, a propósito, que na Região Autónoma dos Açores, no âmbito da sua Autonomia política e Administrativa, o governo regional, para além de ter acordado com os sindicatos a efectiva contagem de todo o tempo de serviço congelado (28 meses), reposicionou-os na carreira e pagou-lhes, em duas tranches, os valores em causa. Mais, estendeu a toda a Administração Pública esta decisão. Aqui, perante uma proposta semelhante apresentada pelo grupo parlamentar do PS-M, que abrangia todos os funcionários públicos, chumbou-a liminarmente.
Entretanto, todos vivem mais um congelamento. À suspensão dos subsídios de férias e de Natal, à suspensão do subsídio de insularidade, ao agravamento do IVA, etc. etc., ainda por cima, aquilo que devem não pagam. Politicamente e não só, esta é uma atitude miserável, com todas as letras. E o mais grave disto é que aparecem aí com palavrinhas mansas, falando dos professores com transbordante enlevo, mostrando-se ao lado deles, quando a prática demonstra que sempre estiveram e continuam contra eles. Tomemos consciência, entre outros aspectos, do Estatuto da Carreira Docente, do modelo de Avaliação de Desempenho, mais recentemente, o despedimento que acontecerá entre centenas de professores, o encerramento de estabelecimentos de educação e ensino, enfim, este longo historial demonstra que esta secretaria anda ao Deus dará! 
Ilustração: Google Imagens 

sábado, 23 de junho de 2012

ALÔ PRESIDENTE: MAS QUEM FOI QUE LEVOU A MADEIRA À BANCARROTA?


Ora, quem colocou a Madeira no estado em que está, não foram os outros, mas apenas ele; quem gerou a necessidade de gravosas medidas de austeridade na Região, não foram os outros, mas apenas ele; quem originou o colapso da economia da Madeira e do Porto Santo, não foram os outros, mas apenas ele. E é este homem, é este político, que tem a desfaçatez de vir falar de austeridade e de economia, quando ele, que sempre falou no singular, que sempre chamou a si a responsabilidade de tudo, sobretudo no momento das inaugurações, atira para os ombros dos outros os dramas que criou. Como se todos fossemos uns parvos, uns imbecis, uns analfabetos, uns incapazes, como se a Madeira nunca tivesse tido órgãos de governo próprio, como se não tivesse orçamento próprio e como se não dispusesse de Autonomia. Que tristeza um povo ser governado assim, por quem o engana, por quem mentiu no que concerne à dívida pública, não só a financeira, mas a outra dívida, a dívida social que levará muitos anos a sarar.

O Presidente do Governo Regional regressou à Madeira, mas não colocou ainda os pés em terra. Partiu, viajou, visitou, pressuponho que se divertiu um pouco, mas a lengalenga continua a ser a mesma.  Pelo que me apercebi continua a falar dos outros, daqueles que governam o País, assumindo que os portugueses "não têm condições de aguentar mais medidas de austeridade" (...) e, "ou se reanima a economia ou não se vai a parte nenhuma". Palavras e mais palavras, com a mesma tecla de sempre, os outros, o problema de lá, nunca o problema criado e gerado aqui. Não consegue, porque não quer nem faz um esforço para perceber, daí que a pauta dessa velha música seja conhecida, sendo caso para dizer que mete "dó". Ainda por cima desafinada e com fífias a mais.
Ora, quem colocou a Madeira no estado em que está, não foram os outros, mas apenas ele; quem gerou a necessidade de gravosas medidas de austeridade na Região, não foram os outros, mas apenas ele; quem originou o colapso da economia da Madeira e do Porto Santo, não foram os outros, mas apenas ele. E é este homem, é este político, que tem a desfaçatez de vir falar de austeridade e de economia, quando ele, que sempre falou no singular, que sempre chamou a si a responsabilidade de tudo, sobretudo no momento das inaugurações, atira para os ombros dos outros os dramas que criou. Como se todos fossemos uns parvos, uns imbecis, uns analfabetos, uns incapazes, como se a Madeira nunca tivesse tido órgãos de governo próprio, como se não tivesse orçamento próprio e como se não dispusesse de Autonomia. Que tristeza um povo ser governado assim, por quem o engana, por quem mentiu no que concerne à dívida pública, não só a financeira, mas a outra dívida, a dívida social que levará muitos anos a sarar. 
Viajou de forma "secreta", por razões de "segurança", conforme foi divulgado. Até nisto há uma megalomania ou, no mínimo, o receio que algum jornalista, sabendo, antecipadamente, o roteiro, marque viagem e o acompanhe à distância. Por um lado, saindo da Portela, pergunto, quem o conhece? E quando abordo a questão megalómana é porque ele não é Obama, Holland, Merkel, o Papa ou qualquer outra figura mediática mundial. É um simples presidente de um governo regional que ele, perdendo a dimensão e responsabilidade autonómica, transformou, aos olhos do País, numa grande autarquia! Por outro, se as razões foram, exclusivamente, de trabalho oficial, que justificação terá o secretismo? Há, portanto, quadros muito mal pintados e vendidos à população que, infelizmente, na sua infinita paciência e ignorância, vai engolindo. Das reuniões acontecidas, quem lá esteve, o que discutiram, as respectivas conclusões, isso pouco interessa. Importante é chegar e dizer que é preciso reanimar a economia, aliás assunto que há tanto tempo os partidos da oposição em Portugal, em geral, e os da Madeira em particular, sublinham com tanta veemência. Portanto, nada de novo adiantou. Demita-se.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

ANDAM A BRINCAR COM A LÍNGUA PORTUGUESA


A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer.

Recebi uma mensagem com texto que nos deve levar a uma profunda reflexão. Quanto a mim e não só, desde o vergonhoso acordo ortográfico até às TLEBS (Terminologia Linguística dos Ensino Básico e Secundário) ao actual CEL (Conhecimento Explícito da Língua), complementado com o Dicionário Terminológico, o que por aí se anda a fazer à Língua Portuguesa, parece-me, repito, parece-me, corresponder a um grosseiro atentado que exige, dos responsáveis políticos nacionais, uma tomada de atenção e de responsabilidade. Desde há muito que me confronto com este problema perante o silêncio cúmplice de muitas pessoas. Deixo, por isso, aqui o texto de Teolinda Gersão, escritora, nascida em 1940, formada em Filologia Germânica em Coimbra. Doutorada em 1976 e professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, foi leitora de Português na Universidade de Berlim e assistente na Faculdade de Letras de Lisboa. Autora de vários trabalhos de crítica literária, recebeu duas vezes o prémio de ficção PEN Clube.
"Tempo de exames no secundário, os meus netos pedem-me ajuda para estudar português. Divertimo-nos imenso, confesso. E eu acabei por escrever a redacção que eles gostariam de escrever. As palavras são minhas, mas as ideias são todas deles. Aqui ficam, e espero que vocês também se divirtam. E depois de rirmos espero que nós, adultos, façamos alguma coisa para libertar as crianças disto.
Redacção – Declaração de Amor à Língua Portuguesa
Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre. A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia “ele está em casa”, ”em casa” era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o predicativo do sujeito.” O Quim está na retrete”: “na retrete” é o predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos “ela é bonita”. Bonita é uma característica dela, mas “na retrete” é característica dele? Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito, e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo. No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de um “complemento oblíquo”. Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto, é tudo “complemento oblíquo”, já está. Simples, não é? Mas qual, não há simplex nenhum,o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento, e os verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos, psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver? E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, ”algumas” é um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim sucessivamente.
No ano passado se disséssemos “O Zé não foi ao Porto”, era uma frase declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa. No ano passado, se disséssemos “A rapariga entrou em casa. Abriu a
janela”, o sujeito de “abriu a janela” era ela, subentendido. Agora o sujeito é nulo. Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da rapariga? Evaporou-se no espaço?
A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser, quem chumba nos exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno em tudo excepto em português, que odeio, vou ser cientista e astronauta, e tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia, holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica, discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto, metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais, implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para esquecer. Dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a acabar em “ampa”, isso mesmo, claro.)
Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo: haviam duas flores no jardim. Ou: a gente vamos à rua. Puseram-me erros desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e reportagens,ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead, parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei que de qualquer maneira vou ter zero.
E pronto, que se lixe, acabei a redacção - agora parece que se escreve redação. O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa nenhuma, não nos quer impôr a sua norma nem tem sentimentos de superioridade em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem, andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem feita, para não sermos burros.
E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra me perguntar: “Ó João, onde está a tua gramática?” Respondo: “Está nula e subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.”
João Abelhudo, 8º ano, turma C (c de c…r…o, setôra, sem ofensa para si, que até é simpática)".
Ilustração: Google Imagens.

UM DIA A HISTÓRIA EXPLICARÁ MUITA COISA

Publico tal como recebi. O assunto não é novo, ou melhor, não traz nada de novo, mas há situações que, com mais ou menos pormenores, é sempre bom ter presente. Situações que há muito deveriam ser totalmente clarificadas, e não foram! O povo conhece, apenas, parte da história, foge-lhe, certamente, todos os contornos que deveriam implicar total transparência política. Aqui fica.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

LAPÓNIA E A CONVERSA IMPOSSÍVEL COM O PAI NATAL


Sabe, Santa Claus, neste momento, onde vivo e reino, todos dispensam brinquedos. Aliás, continuou, estou há 36 anos a brincar com os meus conterrâneos, eles estão fartos de carrinhos da bomba, de plasticinas (uma grande parte já usa, inclusive, na coluna), de bonecos movidos a pilhas, que lá se designam por deputados, enfim, o que eu preciso, de facto, é de um chequezinho de oito mil milhões de euros para colocar aquilo a zero. Evitava estar com maçadas, sacos pesadíssimos, tanto trabalho e desgaste para as suas renas no transporte de tanta tralha que eles não apreciam e estão fartos. O Pai Natal terá escutado, continuou a nossa fonte, com toda a deferência e retorquiu entre os bigodes e barbas: mas, meu caro, que fizeste ao dinheiro que eu, durante anos para lá enviei? Por quem os distribuíste e com que critérios? Dizem-me que uns estão gordíssimos e a maioria muito magra, não é verdade? Meu caro, continuou Sant Claus, o Natal é para todos, a papinha é para todos e por igual, a educação de nível superior não é apenas para alguns privilegiados, ainda por cima dizem-me que aplicaste taxas aos que têm direito à saúde, fechaste escolas e que deixaste as empresas sem cêntimo, não é verdade, e que, ainda por cima, fazes um jogo indecente com um pasquim qualquer? Sabes, enquanto Pai Natal, participo na Festa do nascimento de Cristo, mas não tolero malandragens. É contra os meus princípios...

Notícia de ontem do DN-Madeira, sobre a viagem do presidente do governo regional à Lapónia, ao contrário de qualquer desconfiança ou especulação, inclusive, no valor de oito a dez mil euros que terá custado, julgo que teve a sua razão de ser. Ao estado a que ele levou a Região, penso que só com uma intervenção do Pai Natal. E esta viagem foi no tempo certo. A seis meses do "sapatinho" houve que elencar os pedidos, sintetizá-los por grupos, convertê-los em moeda corrente e entregar a carta, pessoalmente, a Santa Claus. E, pessoalmente, porquê? Simplesmente porque há situações que têm de ser concretizadas olhos nos olhos e com uma explicação que dificilmente seria compreendida de outra forma. Uma carta a explanar os 36 anos de sucessivas maldades e pedidos de desculpa teria, certamente, milhares de páginas, e Santa Claus, como é óbvio, tem muitas para ler face à impiedosa loucura dos "meninos de coro", de Bruxelas a Berlim, entre outras paragens deste conturbado Mundo. Seria mais uma, eventualmente para não ser lida, como são as muitas que lhe chegam sobretudo de África. E nós estamos, geograficamente, num paralelo de África.
E lá foi, segundo o DN, envolto num grande secretismo, até à Lapónia, com algumas escalas para ganhar alento. Dizem-me que o encontro não terá decorrido bem, apesar do viajante ter, insistentemente, sublinhado que tem comido a papa toda e que tem dado muita papa a alguns. Com um olhar meio enviesado, porque há relatórios elaborados, Santa Claus deixou o marfim correr até ao ponto de perguntar-lhe, afinal, a que se devia o facto de viajar de tão longe, a seis meses de distância, para este encontro pessoal?
Segundo fontes próximas do Pai Natal, o viajante, habituado aos salamaleques quando se sente apertado, foi directo ao assunto. De mãos para o céu, num exercício muito semelhante à foto com o Engº Sócrates, lá foi dizendo: sabe, Santa Claus, neste momento, onde vivo e reino, todos dispensam brinquedos. Eu tenho aqui uma lista. Aliás, continuou, estou há 36 anos a brincar com os meus conterrâneos, eles estão fartos de carrinhos da bomba, de plasticinas (uma grande parte já usa, inclusive, na coluna), de bonecos movidos a pilhas, que lá se designam por deputados, enfim, o que eu preciso, de facto, tudo somado, é de um chequezinho de oito mil milhões de euros para colocar aquilo a zero. Evitava estar com maçadas, sacos pesadíssimos, tanto trabalho e desgaste para as suas renas no transporte de tanta tralha que eles não apreciam e estão fartos. O Pai Natal terá escutado, continuou a nossa fonte, com toda a deferência e retorquiu entre os bigodes e barbas: mas, meu caro, que fizeste ao dinheiro que eu, durante anos para lá enviei? Por quem os distribuíste e com que critérios? Dizem-me que uns estão gordíssimos e a maioria muito magra, não é verdade? Meu caro, continuou Santa Claus, o Natal é para todos, a papinha é para todos e por igual, a educação de nível superior não é apenas para alguns privilegiados, ainda por cima dizem-me que aplicaste taxas aos que têm direito à saúde, fechaste escolas e que deixaste as empresas sem cêntimo, não é verdade, e que, ainda por cima, fazes um jogo indecente com um pasquim qualquer que ofende padres? Sabes, enquanto Pai Natal, participo na Festa do nascimento de Cristo, mas não tolero malandragens. É contra os meus princípios...
Pois, replicou o viajante, isso são coisas da maçonaria, eu bem andava desconfiado que andavam a envenenar, a inventar e a escrever, mas quero que saiba que tudo isso é mentira, são facadas nas costas, e por isso mesmo senti a necessidade de aqui vir, pessoalmente, explicar tudo. Eu não digo, Pai Natal, que não houve muitos que engordaram, mas prometo que, a partir de agora, tudo será diferente. Santa Claus retorquiu peremptoriamente: E quantas vezes já disseste isso ao longo dos 36 anos que por lá andas, a brincar, conforme disseste?
Bom, Santa Claus, pelos meus pecadilhos, podem ser seis mil milhões e não falamos mais nisso. Afiançaram-me que o homem das barbas brancas, agastado com a conversa e com a ausência de respostas convincentes, serena e simpaticamente, terá dito, do alto da sua sabedoria e experiência: aconselho-te a passar pela Suíça, regressa ao Funchal e demite-te. A minha bondade tem limites.
Ilustração: Arquivo pessoal e Google Imagens.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

VALE A PENA OUVIR E REFLECTIR

AFINAL, A MADEIRA TEM UM GOVERNO DE NOVE ELEMENTOS


Aquilo que ouvi leva-me a dizer que este governo, só aparentemente é formado por sete elementos. Na minha leitura política tem nove. Aos sete juntam-se o Representante da República, uma espécie de Brazão de Castro cuja missão é a de limpar a imagem degradada do governo e o Bispo do Funchal, uma espécie de secretário para os assuntos religiosos e da propaganda. É caso para dizer que o povo está entalado, pois não tem quem possa ser o fiel da balança, o equilíbrio, a voz que se levanta distante do fervor partidário. Parece-me que todos se encontram dentro da mesma panela, uns pelo silêncio dos compromissos, outros com óbvia costela partidária. Ora, quando a Assembleia Legislativa se furta a fiscalizar o governo nos seus actos, quando se juntam representantes de outras instituições que deveriam pautar a sua missão pelo irrepreensível distanciamento partidário, pergunto, quem está em condições de poder fazer a necessária defesa da população, através da palavra, do exemplo, do rigor e da transparência?

Ontem fiquei completamente zonzo quando escutei as declarações do Senhor Representante da República para a Madeira. Como é possível? Declarações, no mínimo, infelizes. A propósito do último relatório do Tribunal de Contas, o Juiz Irineu Barreto teceu considerações políticas que atentam contra a independência do cargo que exerce, mostrando-se absolutamente colado ao governo regional da Madeira. Nem conta deu que as suas palavras iam contra uma respeitável e necessária instituição como é o caso do Tribunal de Contas. Falou por falar, numa tentativa de adoçar aquilo que é bem amargo para todos os madeirenses e portosantenses. Perante o descalabro das contas da Região, o Senhor Representante, confrontado com o facto de terem sido ultrapassados os limites do endividamento, respondeu: "Quem é que não fez isso já, quem é que atira a primeira pedra?"
Ora, quando seria absolutamente lógica uma atitude de distanciamento, mas também de chamada de atenção, mais que não fosse no plano de uma pedagogia politicamente activa, Sua Excelência preferiu o contrário, em função dos factos provados, atenuar as responsabilidades e mesmo desculpar a Região. Do meu ponto de vista esta situação é politicamente intolerável. Como pode o Representante da República passar ao lado de "encargos assumidos e não pagos da administração regional directa e indirecta da Madeira" que foram, em 2010, de 1.455.7 milhões de euros? Como pode esbater as responsabilidades consubstanciadas na ultrapassagem do limite de endividamento em 1.05 mil milhões de euros? Mas, o mais grave das suas declarações é a circunstância de ter dito que não tinha lido o relatório, conhecia alguma coisa pelo que foi publicado na comunicação social e que, na sua perspectiva, o relatório não era assim "tão mau como parece que querem fazê-lo”.
Aquilo que ouvi leva-me a dizer que este governo, só aparentemente é formado por sete elementos. Na minha leitura política tem nove. Aos sete juntam-se o Representante da República, uma espécie de Brazão de Castro cuja missão é a de limpar a imagem degradada do governo e o Bispo do Funchal, uma espécie de secretário para os assuntos religiosos e da propaganda (JM). É caso para dizer que o povo está entalado, pois não tem quem possa ser o fiel da balança, o equilíbrio, a voz que se levanta distante do fervor partidário. Parece-me que todos se encontram dentro da mesma panela, uns pelo silêncio dos compromissos, outros com óbvia costela partidária. Ora, quando a Assembleia Legislativa se furta a fiscalizar o governo nos seus actos, quando se juntam representantes de outras instituições que deveriam pautar a sua missão pelo irrepreensível distanciamento partidário, pergunto, quem está em condições de poder fazer a necessária defesa da população, através da palavra, do exemplo, do rigor e da transparência? Ninguém. Ou melhor, dir-se-á, os partidos da oposição, mas esses, num quadro de controlo absoluto que mais poderão fazer?
Ontem, uma vez mais, fiquei completamente desiludido com o Senhor Representante da República. Que saudades tenho do Juiz Monteiro Diniz, mesmo depois de lhe terem retirado uma série de competências na sequência da revisão constitucional de 2004. Nunca assumiu posições daquelas. Pelo contrário, em entrevista ao Expresso, em 2009, perante tantas situações que lhe desagradavam assumiu: "Quando me perguntam como se pode alterar esta situação, eu repondo: só há uma entidade que pode alterar esta situação, que é o eleitorado da Madeira". Para mim, esta curta declaração diz tudo. Guardo para mim os vários encontros que mantive com o Juiz Monteiro Diniz, os diálogos profundos, a sua leitura política da situação, a excelência do seu conhecimento técnico e a forma como actuava. Dirão, alguns, que facilitou muita coisa; outros, que complicou muita coisa. Pois, em várias matérias o meu pensamento também foi divergente, mas sentia que tínhamos ali alguém que pautava a sua função com relativa independência no quadro das limitadas competências para actuar. "O problema é o eleitorado da Madeira, que deu maiorias absolutas a um partido durante estes anos todos, esse é o problema", sublinhou naquela entrevista, asserção esta certamente impossível de ouvirmos da boca do Juiz Irineu Barreto. Lamento, porque aquele cargo não pode ser partidário e aquilo que dá a entender é que é!
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 19 de junho de 2012

CONCENTRE-SE, SENHOR SECRETÁRIO!


Está "concentrado" em quê, quando ele é apenas o topo de uma pirâmide e de uma máquina que tem as suas rotinas? Ora, com aquela resposta aos jornalistas, o secretário denunciou que o problema sendo grave não o quer discutir por agora, isto é, porque "enquanto o pau vai e volta folgam as costas". Mas também explica que o secretário, politicamente, não quer ter a matéria da governação na ponta da língua. Toda a sua equipa, certamente, que já lhe apresentou os resumos da matéria, só que, politicamente, repito, são evidentes as notórias dificuldades em explicar o que está a acontecer nos sectores face aos quais tem responsabilidades. Fugiu, adiou as respostas, colocou-se numa posição de logo se verá perante o caso consumado. Não assumiu a dimensão dos vários dossiês com frontalidade, preferindo apagar o quadro dos problemas com uma velha e conhecida esponja embebida em um "concentrado" de amnésia sindical.

Diz o Secretário Regional da Educação e dos Recursos Humanos que, por agora, está "concentrado" nos exames e que, depois desta fase, então sim, abordará a questão do encerramento de escolas e do concomitante despedimento de educadores e professores. Que estranho secretário! Admitiria eu, com uma certa dose de humor, que essa fosse a posição de alguém sujeito às preocupações dos exames, de ter de saber na ponta da língua as matérias em avaliação, de se encontrar cansado por algumas directas fruto de não ter estudado ao longo do ano, mas nunca de um governante. Até porque há uma estrutura própria que conduz à realização dos exames desde o nível regional, ao nível de estabelecimento de ensino e ao nível dos correctores e respectiva supervisão. Por isso, está "concentrado" em quê, quando ele é apenas o topo de uma pirâmide e de uma máquina que tem as suas rotinas? Ora, com aquela resposta aos jornalistas, o secretário denunciou que o problema sendo grave não o quer discutir por agora, isto é, porque "enquanto o pau vai e volta folgam as costas". Mas também explica que o secretário, politicamente, não quer ter a matéria da governação na ponta da língua. Toda a sua equipa, certamente, que já lhe apresentou os resumos da matéria, só que, politicamente, repito, são evidentes as notórias dificuldades em explicar o que está a acontecer nos sectores face aos quais tem responsabilidades. Fugiu, adiou as respostas, colocou-se numa posição de logo se verá perante o caso consumado. Não assumiu a dimensão dos vários dossiês com frontalidade, preferindo apagar o quadro dos problemas com uma velha e conhecida esponja embebida em um "concentrado" de amnésia sindical.
É evidente que, enquanto governante, tem os resumos feitos, sabe o que vai acontecer. De uma estimativa inicial de menos 80 turmas, já lá vão 120 ou mais; ele sabe quantos docentes vão para o desemprego; ele conhece as causas do que está a acontecer com o encerramento de escolas; certamente dominará o volume de dívidas por todo o lado, desde o sector educativo ao desportivo; sabe que tem mais de seis milhões de dívidas aos professores; sabe que falta um pouco de tudo nos estabelecimentos de ensino que coloca em causa os projectos educativos; não sei se sabe, mas concedo o benefício da dúvida, que a estrutura da rede educativa tem de ser reconvertida. É natural que já lhe tenha passado pela cabeça que esta Escola é uma Escola que não dá resposta aos problemas do presente nem do futuro, mas ninguém consegue perceber onde quer chegar com o seu projecto, se o tem! E, sendo assim, embora com a a casa das máquinas alagada e com uma sensação de que o naufrágio é iminente, o que mais que consegue dar a entender é que se "concentra" em mandar água para fora numa desesperada tentativa de navegação. Navegação esta que se sempre foi à vista, hoje, face às circunstâncias, dificilmente o leva a compreender a importância dos instrumentos. "Concentre-se" senhor secretário!
Ilustração: Google imagens.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

MAIS UMA IGREJA... MAIS UM MILHÃO DE EUROS!



É evidente que se percebem as razões deste substancial apoio. No essencial, pensará o governo: pega lá estes milhões, mas isso terá de traduzir-se em votos nas urnas. Futebol (eu diria uma significativa parte do associativismo desportivo) e Igreja têm sido aliados de peso do presidente do governo. Cada um no seu espaço, ao longo de décadas, construíram a teia que interessou a uma política. Mas esse parece-me ser um chão que deu uvas! Todo o desporto está falido, as dívidas são na ordem dos milhões e muitos dirigentes olham com desconfiança para o sistema para o qual foram empurrados; relativamente à Igreja, são conhecidos os desconfortos de muitos dos seus membros que não se coíbem de dizer em alta-voz o que na alma lhes vai.




Está explicado o silêncio do Senhor Bispo D. António Carrilho. Mais um milhão de euros dos impostos para uma igreja, a juntar, no mesmo sentido, a tantos outros milhões. Isto num tempo de graves dificuldades financeiras e de crescente pobreza que se adivinhavam e que, infelizmente, se concretizaram. Um milhão é muito dinheiro que bem serviria para fazer crescer a economia, gerar empregos e combater a pobreza. Os espaços destinados ao culto e a outras actividades complementares, inclusive, no âmbito da solidariedade, não necessitam de uma qualquer "monumentalidade". Isto é, primeiro, está o extenso rol das prioridades (sistema educativo, sistema de saúde, sistema empresarial, entre outros), depois, neste caso, o apoio à edificação de novos templos. Ainda há pouco tempo assistiu-se à Dedicação da igreja de Santa Cecília, uma obra que levou 2,6 milhões de euros. Ora, perante tanto milhão, será que estou errado? Ou será que o dinheiro de todos os contribuintes, uma vez entrado nos cofres públicos torna-se elástico e multiplicador?
Não bastassem outros factos para o silêncio da Diocese, refiro-me, por exemplo, aos três a quatro milhões por ano para o Jornal da Madeira, juntam-se outros que, certamente, implicam a necessidade de boca calada. A Atouguia, na Calheta, terá uma nova igreja paroquial e será inaugurada com pompa e circunstância com a presença do Senhor Presidente do Governo. O povo, esse, continuará em desespero. Espero que o Senhor Bispo não lhe conceda o púlpito para falar aos fiéis, aliás, como já aconteceu! 
É evidente que se percebem as razões deste substancial apoio. No essencial, pensará o governo: pega lá estes milhões, mas isso terá de traduzir-se em votos nas urnas. Futebol (eu diria uma significativa parte do associativismo desportivo) e Igreja têm sido aliados de peso do presidente do governo. Cada um no seu espaço, ao longo de décadas, construíram a teia que interessou a uma política. Mas esse parece-me ser um chão que deu uvas! Todo o desporto está falido, as dívidas são na ordem dos milhões e muitos dirigentes olham com desconfiança para o sistema para o qual foram empurrados; relativamente à Igreja, são conhecidos os desconfortos de muitos dos seus membros que não se coíbem de dizer em alta-voz o que na alma lhes vai. 
Não deixa de ser curioso que o governo assuma que a "construção da Igreja Paroquial da Atouguia, é indispensável à comunidade paroquial e ao serviço sócio-caritativo aos mais necessitados da Calheta", o que testemunha a existência de bolsas de pobreza, aspecto sempre negado ou abafado. Trata-se de um paradoxo, simplesmente porque a fome não pode esperar por amanhã e a sua solução não depende da dignidade das infraestruturas. E nisto andamos, de milhão em milhão, vivendo das aparências e dos interesses ao serviço da manutenção de uma política. E o povo é que viveu acima das suas possibilidades, dizem. E a culpa é de fora, do Sócrates, do Passos Coelho, da Maçonaria e outros tantos que, salientam, criam problemas à Madeira. O problema nunca está aqui, na responsabilidade política de quem governa. Despedem-se pessoas, retira-se 15% às escolas privadas, aumenta-se desmesuradamente os encargos por ter filhos nos berçários, jardins-de-infância e creches, aplicam-se taxas moderadoras, reduzem-se 120 turmas (para já) o que significará despedimento de educadores e professores, há milhões por pagar nos sistemas de saúde e educativo, há empresas a fechar, há pobres a aumentar, e onde não é prioritário, gasta-se apenas com fins eleitoralistas. Até porque, por aquelas bandas, já existia uma igreja. Poderiam melhorá-la no que concerne às instalações adjacentes. Mas, não, uma nova foi a decisão. 
Que fique claro, nada tenho contra a Igreja Católica, muito menos contra o Senhor Bispo e todo o Clero. Respeito-os. Se escrevo é apenas porque há coisas que não batem certo. Apenas por isso. 
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 17 de junho de 2012

ACABOU. PONTO FINAL. ELEIÇÕES QUANTO ANTES!


Este governo regional da Madeira está a conduzir-nos para uma situação de absoluto dramatismo. Sei do que falo. A fome está aí, meia escondida. Onde tudo parece normal, para além das portas e das janelas dos edifícios, crescem incontornáveis dificuldades, aumenta todos os dias o número de pessoas desesperadas, pessoas que não têm para pôr em cima da mesa, pessoas que batem a muitas portas clamando ajuda, porém, estes senhores do governo, a todo o custo, tentam esconder a realidade e, com uma incomensurável lata, continuam a aparecer de peito cheio como se nada estivesse a acontecer. 

Sou um acérrimo defensor de eleições regionais. Quanto antes. Esta pouca-vergonha tem de acabar. Falo com pessoas, funcionários públicos, pessoas de vários sectores de actividade, de empresários a trabalhadores, falo com desempregados e não há um que conceda o benefício da dúvida. Este governo regional da Madeira está a conduzir-nos para uma situação de absoluto dramatismo. Sei do que falo. A fome está aí, meia escondida. Onde tudo parece normal, para além das portas e das janelas dos edifícios, crescem incontornáveis dificuldades, aumenta todos os dias o número de pessoas desesperadas, pessoas que não têm para pôr em cima da mesa, pessoas que batem a muitas portas clamando ajuda, porém, estes senhores do governo, a todo o custo, tentam esconder a realidade e, com uma incomensurável lata, continuam a aparecer de peito cheio como se nada estivesse a acontecer. O texto de análise da semana do Jornalista Ricardo Miguel Oliveira, publicado na edição de hoje do DN-M, que aqui transcrevo parte, constitui um retrato fiel e uma chamada de atenção a todo este POVO. Acabou. Ponto final. Eleições quanto antes.
"(...) É hora de meter pés à parede, e desmascarar todos aqueles que, já sem poder para decidir a favor dos eleitos, continuam armados em superiores na tentativa de calar a revolta, meter medo aos mais afoitos e subornar os mais indefesos.
Basta de intrujice oficial, das sucessivas e escandalosas mentiras que empobreceram o povo que agora vai pagar as taxas moderadas sempre negadas, que já não tem crédito na banca, que é roubados nos impostos, que é obrigado a devolver a casa para poder sobreviver e que até é humilhado por ser inteligente embora remediado. Chega de utilização abusiva de dinheiros públicos para fins eleitoralistas e para proveito pessoal, para brincadeiras que visam a intoxicação da opinião dos menos avisados, o ataque calunioso de adversários políticos e até de companheiros de partido.
Acabou-se o circo. A subversão instalou-se num governo que fecha mais do que inaugura, que reage em vez de agir, que deve e não paga. Por isso, agora convém não tolerar mais que nos espiem os actos e até a diversões; que nos roubem para alimentar ódios que nem a terra absorve; que nos dêem patadas em sinal de desprezo pela autoridade que brota da liberdade de pensar e de agir. Quem meteu os pés pelas mãos e nos toma por 'patas rapadas', em mais prova que Jardim é 'Madeira Velha', perdeu o que lhe restava, ou seja, gente com pés assentes no chão dos problemas, mas que ainda caminha na defesa da Autonomia sem os irresponsáveis que nos trouxeram até ao abismo".
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 16 de junho de 2012

NÃO HÁ PARADEIRO DO PRESIDENTE?


O governo precisa de quem seja LÍDER, dispensa um CHEFE. É por estas e muitas outras que este sistema tem rapidamente de acabar. Situações destas são intoleráveis, pela desresponsabilização e pela ausência de liderança. E não vale a pena, do meu ponto de vista, a população enveredar por substituições que carregam consigo um historial de comportamentos políticos que conduziram ao estado a que isto chegou. Seria como que num veículo velho, com um motor que deu tudo quanto tinha para dar, pintá-lo, substituir os cromados e vendê-lo como novo ou semi-novo! Da mesma forma que tal veículo pode constituir uma peça de museu, tal como os coches dos reis, este governo e todos quantos acompanharam e serviram devem ir para o "museu" político, o museu das memórias, fundamentalmente para que se tenha sempre presente os caminhos políticos que nunca deverão ser seguidos. A Madeira precisa, por isso, não de uma pintura de fresco, mas de um novo veículo com um condutor politicamente capaz e com capacidade para andar à velocidade necessária em função dos buracos desta estrada.

Este governo regional é apenas fumo!
Mandam as regras da Democracia que o chefe de um governo, quando, por alguma razão, sai do País ou da Região, conforme os casos, no mínimo, deve informar a respectiva Assembleia. Parece-me óbvio e sobretudo transparente. No caso da Madeira, as sistemáticas saídas do Senhor Presidente do Governo, raramente anunciadas e justificadas, deixam um rasto de suspeição, de especulações, naturalmente, algumas, abusivas, outras com toda a razão. 
Se a saída tem justificação, isto é, se é política, nessa tal Democracia respeitada, seria do mais elementar sentido de responsabilidade, que os Deputados tivessem conhecimento dos dossiês e os discutissem atempadamente. A Democracia tem regras de comportamento político que não se confundem com o quero, posso e mando. Se a saída é particular, ora bem, o Presidente, como qualquer outro, tem direito a férias e, neste caso, há uma necessária nota ao Parlamento e à população dando conta da ausência por tais motivos, indicando quem o substitui na governação. Ao Deus dará é que isto não deve ficar. Ademais, uma Região com as responsabilidades políticas que tem, não pode ser gerida por telemóvel. Mais, ainda, se as saídas se dão por razões de saúde, então aí, a transparência tem de ser total. Evitam-se especulações até no pressuposto de que com a saúde não se brinca. 
Ora, "Jardim em paradeiro desconhecido", título na edição de hoje do DN-Madeira, tem muito que se lhe diga. Independentemente de tudo evidencia, por parte do Presidente, um total desrespeito pelas instituições democráticas. Um "chefe" de governo não pode estar em "paradeiro desconhecido". As responsabilidades governativas implicam, a todo o momento, que todos os sectores, áreas de governação e sistemas, saibam quem está ao leme. Bom, a não ser, como ainda há dias assumiu, que "não tem, nem nunca teve, intervenção, directa ou indirecta, na elaboração e tramitação administrativa dos processos que são da alçada dos respectivos secretários". Mas, então aí, demita-se, coloque o seu lugar à disposição, já que a sua responsabilidade é nula. O governo precisa de quem seja LÍDER, dispensa um CHEFE. É por estas e muitas outras que este sistema tem rapidamente de acabar. Situações destas são intoleráveis, pela desresponsabilização e pela ausência de liderança. E não vale a pena, do meu ponto de vista, a população enveredar por substituições que carregam consigo um historial de comportamentos políticos que conduziram ao estado a que isto chegou. Seria como que num veículo velho, com um motor que deu tudo quanto tinha para dar, pintá-lo, substituir os cromados e vendê-lo como novo ou semi-novo! Da mesma forma que tal veículo pode constituir uma peça de museu, tal como os coches dos reis, este governo e todos quantos acompanharam e serviram devem ir para o "museu" político, o museu das memórias, fundamentalmente para que se tenha sempre presente os caminhos políticos que nunca deverão ser seguidos. A Madeira precisa, por isso, não de uma pintura de fresco, mas de um novo veículo com um condutor politicamente capaz e com capacidade para andar à velocidade necessária em função dos buracos desta estrada.
Ilustração: Google Imagens. 

sexta-feira, 15 de junho de 2012

TENHA VERGONHA DR. ALBERTO JOÃO JARDIM


Quando li exclamei: tenha vergonha dr. Alberto João Jardim. Pergunto: quem andou todos estes anos a falar no singular? (eu já mandei, eu vou fazer, etc. etc.) Quem é que andou pelos adros das igrejas fazendo a designada "democracia directa"? Senhor Presidente, a gente precisa de uma "estradinha" ali... Pois, senhor secretário aponte aí para ser colocado no programa de governo. Foi ou não assim, Dr. Jardim? Portanto, a posição assumida é a de um político, perdido no seu próprio labirinto, que nem um pingo de solidariedade assume face aos seus colegas de governo. Eu bem dizia, quando ele manteve praticamente o mesmo elenco governativo após as últimas eleições: eu vou ao fundo, mas vocês vão comigo! Aí está a prova e, como é habitual, todos se agacharão. 

Então, onde está o homem forte que apregoava...
deixem isso comigo e que
resolvia tudo?
O Jornalista Tolentino de Nóbrega assina, hoje, uma peça no Jornal PÚBLICO, sobre as dívidas omitidas e detectadas pelo Tribunal de Contas. O curioso e importante da notícia é o facto do Dr. Alberto João Jardim, em sede de contraditório, ter  enjeitado responsabilidades, alegando que "o presidente do governo não tem, nem nunca teve, intervenção, directa ou indirecta, na elaboração e tramitação administrativa dos processos que são da alçada dos respectivos secretários". Quando li exclamei: tenha vergonha dr. Alberto João Jardim. Pergunto: quem andou todos estes anos a falar no singular? (Eu já mandei, eu vou fazer, etc. etc.) Quem é que andou pelos adros das igrejas fazendo a designada "democracia directa"? (Senhor Presidente, a gente precisa de uma "estradinha" ali... Pois, isso mesmo, senhor secretário aponte aí para ser colocado no programa de governo. Foi ou não assim, Dr. Jardim? 
Portanto, a posição assumida é a de um político, perdido no seu próprio labirinto, que nem um pingo de solidariedade assume face aos seus colegas de governo. Eu bem dizia, quando ele manteve praticamente o mesmo elenco governativo após as últimas eleições: eu vou ao fundo, mas vocês vão comigo! Aí está a prova e, como é habitual, todos se agacharão. Demitam-se, vão embora, a Madeira precisa de uma nova geração de políticos e de políticas.
Aqui fica o texto, com a devida vénia, ao Jornal PÚBLICO.
"O Tribunal de Contas detectou novas dívidas na Madeira, desta vez omitidas pelos institutos públicos regionais da Saúde e do Desporto, no montante global de 176,3 milhões de euros. No relatório da auditoria - realizada com o objectivo de validar os montantes dos encargos assumidos e não pagos dos Serviços e Fundos Autónomos (SFA), registados quer na Conta da Região de 2010, quer nos mapas de reporte de informação financeira à Direcção-Geral do Orçamento (DGO) e ao Instituto Nacional de Estatística (INE) - o Tribunal de Contas identificou encargos omissos do Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais (Iasaúde) e do Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira (IDRAM) no montante de 169,3 e de 6,9 milhões de euros, respectivamente.
Esta descoberta leva a que o valor dos encargos não-pagos dos SFA deva ser corrigido em alta para 353,2 milhões, atirando o total global da administração pública para 1625 milhões, montante idêntico ao de todo o orçamento regional de 2010.
No caso do Iasaúde, a omissão resultou da não-inclusão no reporte de encargos facturados cujas despesas não tinham cabimento orçamental, o que violou a lei de enquadramento orçamental. Também à revelia deste diploma, as propostas do orçamento para 2010 e 2011, apresentadas pelo governo regional à Assembleia Legislativa da Madeira, não foram elaboradas e aprovadas com as dotações necessárias para o pagamento das despesas obrigatórias decorrentes de contratos em vigor no Sistema Regional de Saúde, apurou o TC.
Relativamente ao Desporto, o valor dos encargos não-pagos, indicado no Relatório da Conta da RAM de 2010 e na conta de gerência, estava subavaliado em 6,9 milhões relativos aos apoios financeiros à competição desportiva regional, às modalidades de desenvolvimento específico, à alta competição e aos exames médicos desportivos e a diversos eventos e modalidades desportivas, referentes aos anos de 2008, 2009 e 2010, que se encontravam pendentes para pagamento no final deste ano. Nos encargos com instalações, o IDRAM apenas contabilizou e incluiu no mapa de encargos transitados os relativos a facturas com cabimento orçamental, arquivando e não relevando contabilisticamente as facturas sem crédito orçamental.
Segundo o TC, estes factos consubstanciam infracções financeiras puníveis com multa entre 1530 e 15.300 euros, atribuídas a vários membros do governo e directores dos dois institutos, em relação aos quais se extingue o referido procedimento se a multa for paga. No relatório, o tribunal censura a DROC por não ter exercido na "plenitude as suas atribuições e competências" em matéria de fiscalização orçamental e superintendência da contabilidade pública, fazendo com que tivessem sido fornecidos valores "incorrectos de encargos assumidos e não-pagos que puseram em causa a suficiência e credibilidade da informação financeira" reportada.
Em sede do contraditório, Alberto João Jardim enjeitou responsabilidades, alegando que "o presidente do governo não tem, nem nunca teve, intervenção, directa ou indirecta, na elaboração e tramitação administrativa dos processos que são da alçada dos respectivos secretários". Mas o tribunal entende que "nada do que foi dito invalida a responsabilidade individual dos governantes, advinda da participação na elaboração da proposta de orçamento e na decisão consubstanciada na sua aprovação pelo plenário do conselho do governo regional".

A DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DEIXARÁ DE CONTAR PARA A MÉDIA DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR


Ao contrário de procurar a igualdade com as outras disciplinas, o professor de Educação Desportiva deveria procurar a diferença. Simplesmente porque os graus académicos de formação sendo iguais (Licenciatura, Mestrado e Doutoramento) a sua prática é substancialmente diferente. De resto, não há Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo ou da Europa de Português, de Ciências ou de História. Mas eles existem no desporto, plenos de beleza estética, de festa, de superação individual e que impelem e influenciam uma prática a qualquer nível. Sendo assim, enquanto uma bola saltitar frente aos olhos de um jovem, jamais alguém precisará de, muitas vezes, “castigar” os alunos com sistemas retrógrados de avaliação, pelo facto da dita bola, volto a ironizar, por um desajeitado pontapé, não ter entrado na baliza, no quadro dos superiores objectivos definidos na complexa Unidade Didáctico-pedagógica. Pois bem, "morra" a Educação Física que hoje constitui uma monumental fraude e viva a Educação Desportiva Curricular. 

Provavelmente, a partir do próximo ano lectivo, a nota de Educação Física deixará de contar para a média do aluno no que concerne ao acesso ao ensino superior. A notícia, citando fontes do Ministério da Educação, foi hoje publicada no jornal PÚBLICO. Desde sempre entendi que tal não fazia sentido, pelo que aprovo esta medida. E vou mais longe, nem deveria contar para a média de curso. E cheguei a publicar, em livro, em 2004, exactamente no Ano Europeu da Educação pelo Desporto, definido pela União Europeia. De qualquer forma trata-se de um assunto que levantará muita celeuma entre os profissionais de Educação Física. Deixo aqui uma parte do texto que consta do citado livro publicado.
"Joana [1] teve uma mão cheia de cincos mas, na Educação Física, o nível foi um três “muito fraquinho”; Francisco precisou que outros professores votassem o nível de Educação Física para entrar no quadro de honra da escola; José obteve nível dois porque é um “desajeitado, coitado!”; Fernando, porque é obeso e descoordenado, viu um implacável dois na pauta; Teresa, idem, porque não “não gosta” e conheço o caso da Luísa, estudante de nível cinco, de excelentes predicados nas atitudes e valores, esguia, flexível, de uma grande disponibilidade corporal, expoente no ballet que pratica quase diariamente mas, ironizo eu, certamente porque, em três meses de futebol, não conseguiu acertar com a baliza ou porque teve um teste fraco, também não foi além do três. Ao lado destes casos, entre muitos que me chegam ao conhecimento, há também o daquela turma que, recentemente, registou cerca de 80% de negativas em Educação Física. Ao fim e ao cabo, situações que dão para pensar sobre o fundamentalismo, dito pedagógico, que por aí anda, desvirtuador da vocação primeira desta disciplina curricular e provocador de um enorme rasto de frustração. 
Ora, é por estas e múltiplas outras razões que defendo, há muitos anos, a morte da Educação Física e o nascimento da área curricular denominada por Educação Desportiva que se abrigue, inclusive, num quadro científico mais vasto e sustentado. Razão tem, pois, o Doutor Manuel Sérgio, ele, um filósofo, que melhor que ninguém neste país sabe interpretar e sintetizar as correntes filosóficas, sociais e o pensamento pedagógico ao longo dos tempos, ao assumir que: “(...) nem científica nem pedagogicamente existe qualquer educação de físicos (...) que a expressão Educação Física se acha incrustada numa ambiência social onde o estudo desta matéria não é conhecido (...) e que a Educação Física deve morrer o mais rapidamente possível para surgir em seu lugar uma nova área científica que mereça dos homens de ciência credibilidade, respeito e admiração” (O DESPORTO Madeira, 27.06.03) [2]
Trata-se, de facto, de uma luta contra um poderoso lobi corporativista, obsoleto e medíocre, entrincheirado nas universidades e em posições estratégicas de decisão política, que não consegue entender que as respostas encontradas nos anos 30 e melhoradas a partir da década de 70 já não se adequam, por um lado, ao actual conhecimento científico, por outro, às expectativas que o desenvolvimento determinou. Daí que não me espante nem me cause qualquer embaraço que aqueles que consideram que a mudança de paradigma terá de ser operada, sejam muitas vezes visados com graves dislates os quais, penso eu, não são mais do que o estertor de quem perdeu todos os argumentos e, naturalmente, sente que os alunos, paulatinamente, os das universidades e outros de idades mais jovens, estão a lhes voltar as costas, por sentirem que há um mundo novo de possibilidades de prática que não se restringe ao espaço de uma Educação Física bafienta, repetitiva e sem futuro [3]
Não compreendem, nem fazem um esforço por compreender, que a razão da existência de professores está hoje determinada pela necessidade de educar através do desporto e que isso implica, necessariamente, a mudança organizacional dos estabelecimentos de ensino, a completa ruptura com os actuais programas, melhor e mais adequada formação universitária dos futuros docentes, formação permanente e a assunção de uma nova mentalidade pedagógica. Metaforicamente, costumo sublinhar, basta de sopa fria, igual para todos e repetidamente servida. Ofereça-se, pois, o doce mais apetecido: a prática educativa do desporto [4], no pleno respeito pelas diferenças de ambos os sexos e pela segmentação de interesses que existem no meio escolar. Não está, portanto, em causa, beliscar a importância desta área obrigatória dos diversos currículos. Pelo contrário, o que está em causa é, através da mudança, ir ao encontro dos jovens, formando-os com princípios e valores para a vida, possibilitando, inclusive, o inegável direito à excelência através do Desporto Escolar [5]. A própria União Europeia percebeu que a via portadora de futuro é esta, não sendo por acaso que 2004 constituirá o “Ano Europeu da Educação pelo Desporto”. 
Ainda sobre as notas ou níveis que se atribuem aos alunos, eu diria que um professor não se afirma (se se trata de uma afirmação no contexto das restantes disciplinas) no seu mister por essa via. Afirma-se pelo estudo, pela capacidade cultural e crítica, pelo conhecimento, pela qualidade, pela capacidade de resposta aos interesses dos educandos, pelas dinâmicas que é capaz de operar no espaço escolar e pelo gosto que desperta, neste caso, por uma prática desportiva regular. Ao contrário de procurar a igualdade com as outras disciplinas, o professor de Educação Desportiva deveria procurar a diferença. Simplesmente porque os graus académicos de formação sendo iguais (Licenciatura, Mestrado e Doutoramento) a sua prática é substancialmente diferente. De resto, não há Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo ou da Europa de Português, de Ciências ou de História. Mas eles existem no desporto, plenos de beleza estética, de festa, de superação individual e que impelem e influenciam uma prática a qualquer nível. Sendo assim, enquanto uma bola saltitar frente aos olhos de um jovem, jamais alguém precisará de, muitas vezes, “castigar” os alunos com sistemas retrógrados de avaliação, pelo facto da dita bola, volto a ironizar, por um desajeitado pontapé, não ter entrado na baliza, no quadro dos superiores objectivos definidos na complexa Unidade Didáctico-pedagógica. Pois bem, morra a Educação Física [6] que hoje constitui uma monumental fraude e viva a Educação Desportiva Curricular [7]
NOTAS DE RODAPÉ:
[1] Todos os nomes são fictícios. 
[2] É no quadro da Ciência da Motricidade Humana que o filósofo fala de “uma nova Renascença, de uma época de construção de novas ciências, que procura encontrar a teoria da prática dos professores de Educação Física. Que (…) há que compreender como Heidegger, que existir humanamente é ser tempo. De facto, tudo é tempo e a Educação Física já teve o seu” – Manuel Sérgio, Da Educação Física à Motricidade Humana (2002). 
[3] (…) Esse estado dá hoje muito que pensar. Com efeito a análise dos dados levantados por várias investigações, bem como as declarações e tomadas de posição de organizações internacionais tornam evidente que esta área disciplinar vive, desde há alguns anos, uma crise sem precedentes na sua história. Esta crise traduz-se num declínio acentuado do seu estatuto, em reduções de tempo no horário escolar, em inadequação de recursos materiais e pessoais, em erosão dos padrões de qualidade e profissionalismo (…) Mas... como configura a Educação Física as suas relações com o corpo e com o desporto? Como é possível que a Educação Física esteja em crise, se o desporto nunca viveu uma fase de tamanha expansão e crescimento e se estamos a assistir a uma conjuntura corporal, a um regresso festivo do corpo trazido pela valorização da imagem, da estética e dos estilos de vida? Como é possível tal crise, se vivemos numa sociedade que nos ensina a valorizar o corpo como nenhuma outra antes dela e se já entrámos numa era que se funda não mais no trabalho, mas antes no lazer e no ócio criativo e em que será cada vez mais nestas referências que se firmará a nova identidade do indivíduo? Estas perguntas encaminham-nos para a necessidade de reconstruir a educação física à luz de novas e actuais premissas. (…) Para manter a sua presença no sistema educativo a área da Educação Física precisa de renovar argumentos que reforcem a sua real importância. E carece de agregar forças capazes de sustentarem que ela é parte genuína e indispensável da educação. Para tanto deverá começar por lançar pontes de cooperação entre a escola e o envolvimento familiar. – Olímpio Bento, Da Educação Física ao Alto Rendimento, pág. 79 e seg.. 
[4] Salienta o Doutor Gustavo Pires no livro Desporto e Política – Paradoxos e Realidades, pág. 352 e 353: “(…) O sistema de valores, os símbolos, a estética, o espaço e a estrutura do tempo são portadores de novas ideias e pensamentos que devem originar outras soluções organizacionais quando se trata de organizar actividades lúdicas, culturais, recreativas e formativas, em ambiente escolar. (…) Defender a Educação Física não é, por isso, insistir nos modelos e nas soluções do passado. Defender a Educação Física é sermos capazes de encontrar soluções de acordo com as realidades do nosso tempo. Numa dinâmica de futuro. E o futuro é o ensino do desporto”. 
[5] No livro Da Educação Física à Motricidade Humana (2002), editado pelo O Desporto Madeira, pode ler-se na pág. 36 a seguinte passagem do Doutor Olímpio Bento: “(…) é, portanto, curial reconstruir esta área à luz de um lema como este: “escolarizar o desporto – desportivizar a escola e a vida”. Mas atenção, como também salienta o Doutor Manuel Sérgio, desportivizar a escola e a vida num projecto que combata uma prática que constitui “uma das grandes alienações do nosso tempo”. Isto é, “para além do desenvolvimento desportivo, é preciso criar um desporto ao serviço do desenvolvimento”. E a Escola, neste aspecto, é determinante essencialmente porque é futuro. 
[6] Do livro Motricidade Humana, do Doutor Manuel Sérgio, pág. 82, cito: “(…) O trabalho prático e teórico (há-de ser sempre as duas coisas simultaneamente) ao nível da motricidade humana, exige uma visão complexa do Homem, da Natureza, da Sociedade e da História; espírito crítico designadamente em relação à própria profissão, descomprometimento com os grandes interesses partidários e empresariais; consciência da dignidade humana; capacidade de intervenção, principalmente através das ideias, na vida política nacional; informação e formação permanentes, quer no plano da preparação científica e pedagógica quer no da articulação prática-teoria; vivacidade de espírito e curiosidade constante em relação ao processo evolutivo da sociedade e da cultura – e não é tudo isto o que se entende por intelectual?”. E adianta: “Um homem é, a meu ver, como um cristal em movimento. Mede-se, acima de tudo, pelo número de faces iluminadas. O mesmo se aplica ao profissional da motricidade humana”. 
[7] Em 1999 foi divulgado um relatório conduzido por K. Hardeman, da Universidade de Manchester, patrocinado pelo Conselho Internacional de Ciências do Desporto e Educação Física e suportado pelo Comité Internacional Olímpico, que teve por objectivo investigar a situação mundial da Educação Física. As respostas ao questionário, aplicado em 126 países, alertou para o facto da Educação Física se encontrar numa profunda crise de identidade e de credibilidade social.
Ilustração: Google Imagens.