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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

MUDAR O "CHIP"


Pede-nos o primeiro-ministro que mudemos o "chip". E o "chip" tem nome: empobrecimento. No essencial, quer que assumamos o "circuito integrado" do governo, sobre o qual possa, com mais qualquer coisinha, resolver o seu "hardware" ideológico e programático. Fica resolvida a situação. Mudando o "chip" fica tudo, ou quase tudo resolvido: habituamo-nos a viver como o programador entende que deve ser o comportamento dos portugueses, silencia-nos porque nos torna autómatos. Ele quer que repitamos a sua vontade, a vontade dos senhores, na lógica do come e cala-te. Na opinião do primeiro-ministro não é o seu "chip" que está bloqueado, não é o seu programa que está infestado de vírus, são os dez milhões que têm de integrar um outro circuito, entre os quais contam-se mais de três milhões de pobres e excluídos que nunca tiveram acesso ao seu próprio "chip"!

O "chip" de Passos Coelho.
Todo o País a funcionar como ele quer.
Ele programa e a "máquina"
proporciona-lhe a resposta

Isto vai acabar mal. Sento-me à frente da televisão e assisto a um conflito generalizado dos mais pobres contra os mais ricos. O levantamento popular está em curso e parece-me imparável. O balão está a encher e o sistema não tem válvulas de escape.  As razões são diversas, é certo, mas com um denominador comum, exactamente o que o músico Pedro Abrunhosa, um dos elementos apoiantes do "Manifesto contra a Crise - Compromisso com a Ciência, a Cultura e as Artes em Portugal", sintetizou: "o grande capital descobriu que não precisa da Democracia para nada". O problema essencial é esse. E é por isso que Passos Coelho, político só aparentemente democrata, pede para que mudemos de "chip". O "chip" de que fala é o que deixa correr o programa de empobrecimento, a ausência de direitos sociais, o espezinhamento das leis laborais, o que não permite que os jovens e menos jovens aqui desenvolvam os seus talentos, atirando-os para a emigração, é o "chip" que permite aceitar com um sorriso nos lábios o confisco de pensões e de reformas e com efeitos retroactivos, é o "chip" que aceita retrocessos civilizacionais nunca vistos.   
Passos Coelho é uma versão Jardim embora menos atrevida. Aqui, Jardim "vendeu" o mesmo produto aos madeirenses e portosantenses sem falar em linguagem tecnológica. Partiu do princípio que as pessoas não iriam perceber o significado da palavra. Mas o "chip" foi colocado (leia-se assumido) há 38 anos em milhares de eleitores da Região. Permitiram que o especialista, o "vigia da quinta" (expressão do  Padre Martins Júnior), com a sua lábia, conseguisse "vender" o seu "circuito integrado". E deu no que deu! Uma sociedade pobre e dependente numa região assimétrica; uma sociedade em conflito silencioso, que sofre, que murmura e que acabou por perder a Autonomia pela qual tantos lutaram antes de 1974. Enfim, Passos que se acautele e que tome a decisão de mudar o seu próprio "chip".
Ilustração:  Google Imagens.   

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