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quinta-feira, 27 de julho de 2017

"EM POLÍTICA O QUE PARECE É"


Tem qualquer coisa de estranho. Na "cerimónia" de tomada de posse da nova secretária da Inclusão e dos Assuntos Sociais (pouco mais de dez minutos) o presidente do governo remeteu-se ao silêncio. Ninguém lhe perguntou o motivo, por isso, não existe uma explicação política. Não é que tivesse de discursar, mas podia, se quisesse, sendo estranho que o líder de uma equipa de governo que nomeou uma nova secretária, apenas tivesse feito figura de corpo presente. Falou depois, aos jornalistas, com declarações triviais. Esse "solene" silêncio pode ter um significado político. Não gosto de fazer especulações, mas existem dois aspectos que, desde ontem, bailam frente aos meus olhos de mero observador: primeiro, que poderá (!) existir um desconforto político entre a ex-secretária e o presidente do governo e, neste caso, o silêncio é de ouro; segundo, pode colocar-se a questão da nova secretária surgir como uma solução de recurso e, aí, também nada melhor do que boca calada para não ferir qualquer susceptibilidade. Certo é que os ventos para o Dr. Miguel Albuquerque não estão de feição (nunca estiveram), os tempos são de alguma aflição política e de perturbação interna a avaliar pelo coro de críticas que vão sendo feitas publicamente e que a recente sondagem do DN deu conta. Afinal, o que, durante anos, criticaram nos outros partidos, enfrentam, agora, em silêncios que corroem.


Em política, é costume dizer-se que "o que parece é", frase atribuída a António de Oliveira Salazar, vejam lá! As duas sondagens publicadas pelo DN para o Funchal colocam a candidata do PSD-M em uma situação de claríssima desvantagem e de muito difícil recuperação. A sua saída do governo, justificada pela necessidade de total entrega à candidatura, não me convence. Poderia ser temporária, com a pasta que tutela assumida, em acumulação, pelo secretário da Educação ou pelo próprio presidente do Governo. Mas não, trata-se de uma saída definitiva com a possibilidade de, daqui por dois meses, nem Câmara nem governo! Regressará à Assembleia. Talvez! 
O que estará por detrás de uma situação destas? Ou, ainda, no campo da especulação, será este um serviço prestado ao partido a compensar, em 2019, com um lugar elegível nas eleições nacionais ou nas europeias? Tenho por adquirido que não há nem almoços nem favores grátis!
O consolado da Drª Rubina Leal na "Inclusão e Assuntos Sociais" não foi de forma a deixar uma marca. Correu muito, andou de um lado para outro, com muitas fotografias de permeio, esteve em muitas iniciativas, apareceu sempre em assuntos politicamente não estruturantes mas, peneirada a sua actividade, interrogo-me sobre o que restou de importante? Concretamente, no plano das políticas de família, da protecção à infância, do combate à pobreza, do emprego com estabilidade, no âmbito da coesão social, da verdadeira paz social e não aquela que é apregoada para consumo? Destes dois anos fica-me a sua persistência em reclamar mais verbas da República, comparando-as sempre com as atribuídas aos Açores, como se, em sede de Orçamento de Estado, não existissem regras e fórmulas que determinam os quantitativos a transferir, independentemente do partido que lidere na República. Vi-a, várias vezes, a cumprimentar com o chapéu alheio, esquecendo-se que a Segurança Social é Nacional, mas, curiosamente, não lhe escutei uma palavra de exigência, por exemplo, na integração no Orçamento da Região, de um complemento de pensão para os mais vulneráveis da nossa sociedade. De resto, como existe nos Açores, onde "todos os pensionistas que auferem um valor inferior ao salário mínimo, recebem 54 euros de complemento regional de pensão (...) actualmente, na Região Autónoma dos Açores 35 mil idosos beneficiam do complemento regional de pensão, sendo que a verba anual despendida é na ordem dos 25 milhões de euros". O próprio PSD açoriano, agora, até deseja que o governo regional aumente em 10% tal complemento. Isto para não falar da comparticipação nos medicamentos dos idosos pobres que, em 2016, beneficiou 4.871 pessoas, valor que ascendeu a 797 mil euros. Tudo do Orçamento Regional. Por aqui, assisti ao seu silêncio público. 
Teria ficado uma marca positiva se outras tivessem sido as suas preocupações. Pouco restou e o futuro dirá sobre as razões mais substantivas que conduziram à sua definitiva saída do governo. Estou convicto que não foi, apenas, pela Câmara do Funchal. Parece-me uma história menos bem contada. Porém, o que aqui deixo escrito apenas constitui uma mera especulação.
Ilustração: Google Imagens.

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