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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

AI CAVACO, CAVAQUINHO!


Há pessoas que não têm noção de si próprias, da menor consideração política que o povo, hoje, por elas nutre; não têm noção que tudo tem o seu tempo e que, bem ou mal, já tiveram o seu, por isso, deveriam optar por se resguardar. É a inteligência do recato que assim determina. O Professor Cavaco Silva parece não ter essa noção. Os quase oitenta anos deveriam-lhe permitir essa reserva no outono da vida. Não sendo uma figura carismática, uma figura de referência europeia ou mundial, antes uma personalidade de dimensão nacional, sobretudo pelos cargos que ocupou, o Professor Cavaco Silva teima em querer manter-se na crista da onda, quando esta por cima de si já passou e o embrulhou. A prova está no facto de ter saído de Belém com o índice mais baixo alguma vez registado por um Presidente da República (12,9% negativos). 


O Professor Cavaco Silva regressou, pretensamente, para dar uma "lição política" aos jovens. O problema é de quem lá esteve a assistir, em Castelo de Vide. Pessoalmente, o que li (Expresso) é que, uma vez mais, me deixou perplexo. O Professor Cavaco arrasou a actual solução política encontrada no âmbito da Assembleia da República que evitou, claramente, quatro anos de instabilidade na governação; colou António Costa a Hollande e a Tsipras, sublinhando que "acabarão por perder o pio ou fingir apenas que piam" e, em sua defesa, foi buscar Macron, também de forma clara e deselegante, contra Marcelo Rebelo de Sousa, quando disse que "a palavra presidencial deve ser rara". Com toda a certeza não terá coragem de o dizer, directamente, a Marcelo aquando da realização de um próximo Conselho de Estado. Faltar-lhe-á coragem para assumir que é contra a sua "verborreia frenética". 
A "lição" conduziu-o a condenar as "ideologias": "(...) De facto, caros jovens, na zona euro a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" (...) "e os Governos podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam sempre por se conformar com as regras da disciplina orçamental". Uma declaração que só tem uma leitura, a sua preferência pelo pensamento único mandando às malvas a DEMOCRACIA e a independência nacional mesmo no quadro da integração europeia.
A "lição" foi mais longe quando se referiu a uma eventual saída da zona Euro. Atacando os que "ideologicamente" não suporta, disse que em uma opção de saída: "(...) seríamos remetidos, talvez para a galáxia onde se encontra agora a Venezuela". Só ideologicamente esta declaração é possível. Admito, obviamente, que sublinhasse a sua posição favorável, justificando-a, mas também, prudentemente, evidenciasse a necessidade de estudos no sentido de serem apresentadas aos portugueses as vantagens e os inconvenientes de uma eventual saída. Deveria e não teve presente que só ao povo compete decidir. 
Concluo da sua "lição" que há uma diferença muito significativa entre um ESTADISTA e um político que sempre disse, pasme-se, não o ser. Já agora, ele que nega as ideologias, ele que disse algures que nunca se enganava, raramente tinha dúvidas e que não lia romances nem jornais, acabou por justificar o seu posicionamento ideológico na sua declaração final de apelo ao voto no PSD: "(...) os portugueses ainda preferem a verdade, a honestidade, o trabalho sério, a dedicação e a competência". Porque não lê jornais, ainda não se apercebeu do que os portugueses pensam de Passos Coelho, não se apercebeu das sondagens e até, no plano interno do seu próprio partido (lá está a ideologia), as desinteligências que o corroem. Ai Cavaco, Cavaquinho!
Ilustração: Google Imagens.

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